Desde 2015 | A informação começa aqui!

Artigo 3: adultização, o encurtamento da infância, por Eliana Curvelo

Este é o terceiro artigo da série sobre adultização da criança, tema proposto pelo 14News a especialistas. Confira:

-Para falar sobre a adultização das crianças, nos baseamos no texto de Clara Dawn[1] que apresenta a questão sob o ponto de vista da psicologia. Nosso enfoque se dará pela história e por sua importância como política pública.

A adultização da criança é algo que sempre existiu na história da humanidade. Obras de arte, nos apresentam imagens de crianças, com roupas de adultos ou sendo tratadas como tal; é o encurtamento da infância.

Historicamente, uma criança valia menos que um burro, na gravura “The ass in the school”, 1556, de Pieter Brueguel, the Elder; podemos ver um professor castigando crianças que foram abandonadas a própria sorte, enquanto um burro é educado.

Descrição: Veja o texto adjacente.

Continuando nosso olhar sobre obras de arte com crianças, a pintura “As crianças de Graham”, de 1742, de William Hoghart, pode-se observar crianças vestidas como adultos, sendo que a criança menor, vestida como menina, na verdade era um menino e, tem acima de si um relógio, no qual o anjo segura uma foice, apresentando a mortalidade infantil, que era elevada e independia da classe social.

Descrição: Resultado de imagem para fascinação de pedro peres

No Brasil também encontramos algumas obras que demonstram crianças na qual não eram dada a proteção a sua infância. Como é a obra “Fascinação”, 1909, de Pedro Peres nos demonstra uma criança, negra, que não pode brincar, ela é, ainda, escrava da casa. Essa obra inspirará o conto Negrinha de Monteiro Lobato, do qual vale a pena ler para entendermos como a nação brasileira tem muitas dívidas com as crianças e, especialmente as negras e descendentes.

Pois bem, utilizamos algumas obras para ilustrar como as crianças foram adultizadas para pertencer a vida dos adultos e, assim, pretensamente serem protegidas. Portanto, a infância e sua proteção é recente na história da humanidade. Depois de onze anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) a Declaração dos Direitos da Criança (1959) foi proposta pela ONU – Organização das Nações Unidas. Toda criança no mundo passa a ter os seus direitos legitimados; infelizmente, não é o suficiente se não houver políticas públicas eficientes para a promoção das mesmas.

Para além destes direitos é importante entender que a mola propulsora do desenvolvimento e da economia nos tornou consumidores. A indústria do consumo passou a privilegiar um grupo especifico, que garantiria sua continuidade – CRIANÇAS. Quanto mais cedo uma criança aprende a consumir melhor para o mercado. As crianças são arremetidas ao consumo por marcas, sabores, heróis, princesas, como garantia de sua plenitude aos olhos do adulto. No vídeo Criança, a Alma do Negócio, 2008, da cineasta Estela Renner[2] é um exemplo do que fazemos as nossas crianças sem perceber.

O mundo contemporâneo, sob o ritmo da aceleração nos tornou indivíduos que sanam suas tristezas e frustrações com compras. Os relacionamentos são resolvidos descartando pessoas de suas redes sociais; não precisamos ter contato real. Assim como consumimos produtos, consumimos pessoas. Compre e descarte, rápido para não ser descartado.

Individualismos sobrepujam o conceito de individualidade; rompemos nossos contratos sociais e sem perceber, influenciamos os comportamentos de nossas crianças e adolescentes.

Não basta proibir o uso da tecnologia. Ela existe e é muito interessante, o que precisamos é apresentar como a tecnologia de massas pode nos tornar mais inteligentes e ou alienados.

Para isto, é preciso aprendermos uma nova comunicação humana. Nossas crianças estão abandonadas à própria sorte, a diferença é que ela tem amigos “virtuais” muito melhores que os humanos.

Tal como a lenda do Flautista de Hamelin[3] que encanta com sua música crianças de uma aldeia e as faz sumir durante a noite, estamos nós, adultos, deixando nossas crianças ouvir a música e abandonadas a sorte de serem trancadas dentro da caverna – das redes sociais, do consumo; neste momento que seria o primordial na formação humana – nos tornar adultos melhores para um mundo melhor. Por enquanto, utopias. Entretanto, utilizando a sabedoria de um antigo educador – Comenius, parafraseio: esse exercício deve ser praticado até que se o crie o hábito de conversar.

Já conversou com uma criança hoje?

Fica a dica.

Por Eliana Curvelo – educadora.


[1] https://www.portalraizes.com/adultizar-e-capitalizar-uma-crianca-e-uma-maneira-bem-eficiente-de-destrui-la

[2] https://www.youtube.com/watch?v=ur9lIf4RaZ4

[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Flautista_de_Hamelin

Redação 14 News

Redação 14 News

Você pode gostar também