Um livro que se despede sem desejar o adeus, que se remói em saudades, lembrando de amores recentes e seus cheiros. Que veste a camiseta azul dos solitários, querendo amar e ser amado — e quem não quer? Tudo isso em um flanar pelas ruas, um outsider jorrando poesias trôpegas, abaixo das explosões estelares de um céu noturno.
Com um sabor de ironia e melancolia, o poeta, editor e artista-etc. Baga Defente lançou “Pra estancar essa sangria” (2021) seu novo livro de poemas. Viabilizada com recursos da Lei Aldir Blanc, a obra, de 128 páginas, foi publicada pelo NADA∴Studio Criativo, um híbrido de ateliê de criação multimídia com microeditora independente, no qual Baga é fundador, diretor criativo e editor. O seu lançamento aconteceu no Sarau Akangatu e foi realizado pelo Centro Max Feffer Cultura e Sustentabilidade, em Pardinho (SP).
A obra condensa a sua “tetralogia etílico-poética”, com três obras publicadas anteriormente pelo autor de forma artesanal. São elas: “enquanto você toma rumo eu tomo rum” (2015), “cointreau+alt+del” (2015) e “PINGALOVE” (2016). Para completar, o novo livro ainda traz “Birinaits”, um pequeno conjunto de poemas inéditos, escritos em 2017.
“Eu jamais havia relido esses livros depois de publicados; muito menos assim, de forma sequenciada, como uma única obra. Fiquei surpreso quando constatei o óbvio: o grande tema do livro talvez sejam as despedidas, os términos e o sentimento de solidão que nos invade em momentos assim”, expõe o poeta, que é formado em Direção e Roteiro pela primeira turma da Academia Internacional de Cinema (AIC-SP). Baga teve, nos últimos anos, seus videopoemas exibidos em mais 10 países.
Sérgio Santa Rosa, que prefacia a obra, define Baga como um autor governado pelos afetos, “um sagaz e romântico corsário do asfalto, singrando as madrugadas, tentando pilhar amores, sempre livre de pecados e ordenamentos”. “Alguém que exalta os encontros, sabe olhar e comentar a frágil dinâmica das paixões e não hesita em chorar as pitangas diante dos desencontros, salpicando pelas páginas seus delicados achados poéticos com sabor pop fora da lei”, escreve.
Para o editor Alex Zani, trata-se de um livro que encerra um ciclo. “Como se fecha um baú ou se retira uma atadura. É um livro que fala mais sobre o Baga, mais do que ele mesmo possa imaginar e, principalmente, mais sobre um dos Bagas dos quais ele mais evita falar. É um livro que delimita e conclui — a meu ver, com sucesso — uma etapa do seu percurso poético”, comenta o profissional, que passou a integrar o NADA∴Studio Criativo neste ano e também atua como editor-chefe do portal Fazia Poesia.
Assista ao vídeopoema “Poema Cas’leluia & Final Brega” e às leituras de “Poema Chulo #02”, “os Verbo” e “Poema dos Anos 20”, que integram “Pra estancar essa sangria”.
Influências artísticas: entre Hilda Hilst, poetas beats e Nick Cave
Hilda Hilst e Murilo Mendes são algumas das referências poéticas de Baga Defente. Mas a prosa o agrada mais. “Gosto dos atravessamentos entre ficção e realidade de Enrique Vila-Matas. E os poetas beats, em especial Allen Ginsberg e Gary Snider, além do nosso herói beat-tupiniquim, Roberto Piva”, revela.
O romantismo de Vinícius de Moraes, a beleza no mundano de Bukowski e as “Técnicas de masturbação entre Batman e Robin”, livro do colombiano Efraim Medina Reyes, foram grandes influências para seus primeiros escritos, duas décadas atrás. “Mas talvez seja a música o elemento mais presente no meu processo criativo, em especial os cantores que escrevem, como Nick Cave e Leonard Cohen. O sentimentalismo de Jeff Buckley, a melancolia de Nick Drake, os experimentalismos do jovem Caetano, a breguice romântica de Roberto Carlos e a filosofia amorosa de Belchior completam esse eclético caldo poético no qual cozinho meus poemas”, pontua.
Sobre Baga Defente
Baga Defente é poeta, editor, artista visual, videomaker, produtor cultural e arte-educador, atividades conectadas pelas suas pesquisas e práticas vinculadas à Poética do Acaso, isto é, a influência do aleatório no processo criativo.