A Paróquia de São Pio X, em Botucatu, promoverá, entre os dias 10 e 27 de setembro, a Festa de Santa Cruz de Anna Rosa. O tema será “Feminicídio e a Violência contra a mulher”. Fazem parte da programação uma missa em homenagem ao padre Orestes Gomes Filho, grande incentivador desta iniciativa, falecido em março deste ano, um almoço tropeiro (com entregas drive-thru) organizado pela equipe do Joãozinho, da transportadora Aquariun, e o tradicional Bolo de Pote da Nice.
A ideia de organizar a festa em homenagem a Anna Rosa, um dos personagens mais conhecidos da história cultural de Botucatu, é da Comunidade de São Pio X, coordenada pelo padre José Francisco Antunes (padre Chico), responsável pela paróquia de São Pio X. “Quando cheguei na paróquia fui visitar todas as capelas da cidade e tive a alegria de conhecer a capela de Santa Cruz de Ana Rosa. Após ser orientado e apoiado por dom Maurício (Grotto de Camargo, arcebispo Metropolitano de Botucatu), procurei a Secretaria Municipal de Turismo para pedir autorização para celebrar na Capela, uma vez ao mês e tivemos todo apoio nesta nova missão”, conta.
A missas começaram a ser realizadas em todos os primeiros sábados, às 16 horas, com grande participação dos devotos. Com isso, foi possível restaurar o prédio da capela e voltar reunir os fiéis pertencentes àquele setor da cidade. Animado com os resultados, padre Chico capitaneou, em setembro de 2017, a primeira Missa Festiva da Exaltação da Santa Cruz.
“Falar em Festa da Cruz parece um contra-senso para a mentalidade e a cultura que fogem da cruz e que, afinal, acham a cruz uma desgraça. No entanto, nós cristãos, recordamos a Cruz e aquele que está na Cruz. Valorizamos o crucificado e a Cruz como sinal, símbolo maior do amor misericordioso de Deus”, explica padre Chico.
Em 2019, com a comunidade mais organizada, voluntários da Paróquia de São Pio X promoveram a 1°Festa da Santa Cruz de Anna Rosa, com os temas Feminicídio – recordando a tortura e o assassinato da jovem Anna Rosa – e o resgate da Música Caipira, já que a história ficou famosa pelos versos de uma composição de música sertaneja raiz, de autoria da dupla Tião Carreiro e Pardinho.
Segundo padre Chico, neste ano, devido à Pandemia, a festa diferente, mas refletindo com profundidade os temas: Feminicídio e a Música Raiz através de Lives. “A cruz nos motiva a dar o nosso melhor… como Jesus deu! Sim, eu amo a mensagem da cruz! Ela é rejeitada por muitos, mas fala de salvação, conforto e desafio. É preciosa e insubstituível!”, declara.
Confira a programação Festa de Santa Cruz de Anna Rosa
10/9 – 19h30: Live sobre o tema “Violência Domética”, com a Dra. Cristina Escher, juíza de direito titular da 2a Vara Criminal de Botucatu; Amanda Rocha, psicóloga e Cristina Paganini, advogada;
11/9 – 19h30: Live sobre o tema “Violência Psicológica e Moral”, com Silvana Pradela Cardi, Raíssa Blumer Surano e Isadora Tiegli, advogadas;
12/9 – 19h30: Live sobre o tema “Violência física e Superação”, com as MULHERES SUPERAÇÃO: Solange Neves Toffolli de Oliveira Vucano, Solange Prearo, Gabriela e Malu Ornelas
13/9 – 19h30: Live sobre o tema: “História da Capela de Santa Cruz de Anna Rosa, com Francisco Basso;
14/9 – 19h30: Missa Online e Presencial, da Exaltação da Santa Cruz;
19/9 – 19h30: Filme de Anna Rosa, com David Franque
25 e 26/9 – 19h30: Live Caipira de Anna Rosa
27/9 – 10h: Missa em homenagem ao Padre Orestes
27/9 – Das 11h30 às 14h: Almoço Tropeiro (com retirada por drive-thru)
Capela – Localizada na Avenida Mário Barbéris, na Cohab I, em Botucatu, ao lado da sede do Tiro de Guerra, a capela em homenagem à Anna Rosa foi recentemente reformada. Existe um projeto de, na área situada atrás da capela, ser construído um Museu da Música Caipira.
Relembre a história de Anna Rosa
Na manhã do dia 22 de junho de 1885, um fazendeiro cavalgava por Botucatu, quando o animal, inesperadamente, o conduziu para um terreno nos arredores do município, próximo ao Rio Lavapés. Ali, o homem encontrou abandonado o corpo de uma mulher mutilada, sem os seios, orelhas, lábios, dedos e língua.
Graças a uma escrava fugida que viu o crime, escondida, foram reconhecidos assassino e vítima: a jovem era Anna Rosa, de 20 anos, e seu algoz era o próprio marido, Francisco Carvalho Bastos, conhecido como Chicuta, um influente carreiro com idade entre 40 e 45 anos.
A tragédia de Anna Rosa chocou a pacata Botucatu do século 19, que compareceu em peso no seu enterro. Mais de 130 anos depois, o túmulo da moça – uma construção rosa modesta localizada no Cemitério Portal da Cruzes – ainda é preservado pelos moradores da cidade.
Mais que empáticos à tragédia da jovem, muitos ali são devotos de Anna Rosa, considerada milagreira na região. Seu túmulo tem centenas de placas em agradecimento de pessoas que afirmam ter alcançado graças por intercedência dela.
De milagreira à moda de viola
Por mais de 70 anos, a história de Anna Rosa foi passada de geração em geração de forma oral, até que, em 1957, a dupla sertaneja Tião Carreiro e Pardinho gravou uma música que conta a tragédia da jovem, descrevendo Chicuta como um “caipira bastante atrasado” que “batia na pobre mulher com a vara de ferrão de bater no gado”. Intitulada Anna Rosa, a composição é do músico Carreirinho, nascido em Bofete.