Depoimento anônimo do Covid 19 – Gratidão aos funcionários, colaboradores, residentes, médicos e enfermeiros UNESP em Botucatu (SP):
Em apenas 2 de janeiro, já estava lendo sobre um novo vírus, acompanhando desde o mês de março de 2020. O caso viral aconteceu no mês de março, provavelmente perto do dia 25 a 30, tudo começou assim:
Apenas trabalhava em março, consegui um trabalho em uma marcenaria, não queria nem registrar, pois estava recebendo o seguro desemprego ainda do trabalho anterior, e o pânico de estar com uma doença misteriosa até março vinha diversas vezes em meu pensamento. Quem me conhece sabe que eu realmente sou bem criteriosa a doenças, principalmente as que envolvem pessoas de fora ou a mim mesma.
Minha rotina era como de muitos e muitos brasileiros, saia cedo, acordava em cima da hora, ia trabalhar, correndo para não perder hora as vezes nem tomava café, extremamente pontual, mas ao mesmo tempo, tantas coisas para realizar, e acabei exagerando na limpeza doméstica, arrastando uns móveis, inflamou um nervo, perto do lombar, não saberei explicar os termos médicos, porém conhecido como “hérnia de disco na coluna”. A dor era insuportável, como estranhei muito, as outras vezes passava por dias, mas dessa vez, cheguei ao extremo. Provavelmente mobilizei as pessoas da minha família.
Em vão, por ser extremamente cuidadosa, minha mãe me levou para ir passar uns dias na casa dela da chácara, claro pois a outra já está ocupada, na pequena cidade, fiquei lá, e por incrível que pareça o mês todo de meu aniversário, em meados de 10 de abril de 2020. Já estava apresentando, um resfriado atípico, não sou muito acostumada com o clima montanhoso, serra, mas achei normal, então veio a secreção e alguns dias de febre. Infelizmente em 20 de abril, estava com esses sintomas, enfim não diagnosticado e não comprovado, mas era o Covid 19. A cidade onde moro por ser metrópole, não teve o mesmo atendimento e não estavam preparados para atender outros casos, simplesmente esqueceram de outros procedimentos, apenas CORONAVírus era importante, vergonhoso para um convênio médico. Enfim não darei nomes por ética profissional de muitos profissionais neste convênio.
Vários, vários e variadas perguntas me foram feitas, tanto no atendimento municipal, no convênio, porém foi mesmo a eficiência de profissionais da Saúde da Unesp Botucatu- SP, que tiveram coragem e competência para atender prontamente, não sei se é porque são ingressantes na área médica, se é amor a profissão ou se é o jeito botucatuense de atender mesmo.
Na rede municipal, tenho tantas coisas boas, que me fez até lembrar com amor, infelizmente não sei o nome da médica, ela deixou a própria marmita para eu comer, uma enfermeira, subiu numa cama, para fechar a janela pois não aguentava de tanto frio em Abril, um enfermeiro tão dedicado, que usou algo que jamais vi em ninguém a empatia.
A farmácia, eu fui socorrida, por estar sem comer por horas, só porque tive uma breve vertigem, a forma de aplicar e atender as pessoas, nunca vi nada igual em todos os lugares que já fui atendida. O posto de saúde município – mobilizou atendimento domiciliar – são muitas as razoes para ser grata. Porém tem uma em específico, gostaria muito de lembrar o nome daquela enfermeira. Descrita abaixo:
Foi quando eu recebi o diagnóstico, depois de um choque e um desmaio que eu nem sabia se iam me acordar, eu cheguei blasfemar, dizendo em pensamento, já que estou com Covid 19, pode me levar Deus, pois já está bom, já sofri o suficiente, alguém aí do céu, dizia em pensamento, manda um anjo cuide de meu filho, e me leva logo, pois já não aguento mais, agradeço a vida que tive, espero que me perdoem se magoei ou feri alguém, mas por favor, me leva, não quero ficar em coma para falecer, nem queria ser algo que trouxesse despesas para alguém, então continuei, a blasfemar contra minha própria, vida, “ Senhor, tem coisas, que ficaram somente eu e ELE” enfim, essa mulher me olhou nos olhos, e uma lágrima rolou, e eu disse, eu prefiro morrer que suportar, ela me disse com tanto amor e carinho, que agora penso que Deus põe mesmo anjos terrestres “ Jesus suportou tudo por amor a você” se você pede para morrer, não deveria estar aqui, pois “nós” estamos aqui para salvar as vidas e não há força no mundo maior que fará você partir, antes que Deus permita.
Pronto, a realidade bateu, é minha missão, chamado ou coisas do tipo devem ser grandes mesmo. Se não fosse minha hora, vamos esperar então. No dia 30 de abril de 2020, exatos meus 42 anos, veio a comprovação do que eu já sabia, estava com Covid 19, estava tratando normal, com antibiótico, remédio para verme, e tudo, pasmem: receitado e a maioria doado pelo posto de saúde, claro minha família fez questão dos adicionais, entre custos de combustível, alimentação, remédio e até água potável, então foi aí uns R$ 1.500,00 desnecessários, mais valeu pela experiência.
Não, não sei se vão morrer ou sobreviver, quem está ou está sujeito a pegar, infelizmente ainda não tem a vacina que pode amenizar, não tem nada ou pega ou espera sair algo cientificamente provado, testado e liberado, sim, é difícil o Pós coronavírus, às vezes brinco até o “cororo chinês “ pois os que sabem te discriminam, uns não te olham com os mesmos olhos, outros não te recebem, tem pessoas que quando te vê até tem coragem de perguntar como foi, porém somente o médico que me acompanha há anos, sua adorável secretária, e os profissionais que infelizmente não me recordo o nome de Botucatu, são pessoas que merecem meu respeito e minhas sinceras gratidão eterna. Não por ter salvo minha vida, pois isso cabe a Deus, mas por estarem ao meu lado nos momentos mais difíceis e ainda assim, fazerem parte das minhas melhores lembranças.
Autor Anônimo – 07 2020