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“Ignorância e negacionismo: um perigo à vida”, por Cesar Martins, docente do IBB/Unesp

Convencer pela ignorância. Essa tem sido a lógica de muitas pessoas ao redor do mundo, apegadas a uma regra que preza pela valorização da ausência do saber. Infelizmente, isto ganha espaço fácil em locais como o Brasil, onde o déficit no desenvolvimento educacional e cultural colabora grandemente para a falta de conhecimento das pessoas. Entenda por ignorância o “estado de quem não tem conhecimento ou cultura, seja por falta de estudo, experiência ou prática”. Que fique claro: frequentar boas escolas não atesta o letramento das pessoas ou as priva da estupidez. 

Quem não conhece, não sabe ou não entende, acaba não tendo noção do tamanho do problema, o que faz com que tenha ainda mais convicção de que está certo. O ignorante é o que mais tem certeza. O problema é que sua falta de conhecimento o impele a negar fatos. Isto foi demonstrado em uma série de estudos realizados pelos americanos David Dunning e Justin Kruger, o que ficou conhecido como “Efeito Dunning-Kruger”. 

A falta de conhecimento deixa os indivíduos vulneráveis ao negacionismo de coisas óbvias. Via de regra, se apoiam em bases conspiratórias, ideológicas, religiosas, econômicas, ou mesmo de benefício próprio, para afirmar sobre determinados temas, mas sem respaldo algum de bases científicas ou de análise criteriosa de registros de fatos ocorridos. Entre tantos exemplos que apareceram recentemente nas mídias, podemos destacar o negacionismo do holocausto, da ditadura militar no Brasil, e mais próximo da ciência: do aquecimento global, da evolução biológica, da pandemia da Covid19, e aqueles ligados ao movimento terraplanista, grupos anti-vacina, entre outros.

No fundo, trata-se de uma forma de negar os fatos na esperança de escapar deles. Estas ideias encontraram facilidade de disseminação com o uso das novas plataformas de comunicação, o que faz com que a falsa informação (fakenews) chegue rapidamente a um conjunto grande de pessoas. A problemática da difusão de ideias errôneas é que pode ter consequências sociais e políticas bastante severas. Isso se mostra ainda mais perigoso quando se torna estratégia de governos, como aconteceu nos EUA e continua acontecendo no Brasil. O caso das vacinas ilustra o quanto este tipo de movimento pode ser devastador, pois coloca populações humanas em risco, representando uma grande ameaça à saúde global.

O negacionismo na ciência se opõe ao método científico que é o delineador da busca pelo conhecimento e compreensão da natureza, que se fundamenta na experimentação, questionamento e obtenção de respostas. Tudo isso traz benefícios ilimitados à qualidade de vida das pessoas, pois permite que conhecimentos fundamentais da natureza sejam traduzidos no desenvolvimento de tecnologias que beneficiam em muito a vida humana e os cuidados com o planeta. Exemplos reais do nosso dia-a-dia, as vacinas e os antibióticos, ilustram muito bem o papel da ciência neste contexto. Negar a ciência e o conhecimento por ela produzido, é negar a vida.

Conhecimento não se obtém via troca de mensagens em grupos no Whats app ou rápidas visualizações de postagens do Instagram. Estas ferramentas são, sim, muito úteis para a rápida comunicação. Mas o conhecimento sólido é construído com estudo, muita leitura, e pensar, o que leva tempo. A pandemia da Covid19 mostra o lado mais obscuro de uma população ignorante, que pode levar ao seu próprio colapso. O momento exige ação rápida e tem instigado muitos dos nossos cientistas a saírem da formalidade da linguagem pesada da academia e chegar à casa das pessoas de forma leve e educativa. Mas precisamos ir mais longe, pois uma nação culta e educada se constrói ao longo de décadas com políticas de estado de investimento em ciência, arte, cultura e educação. No entanto, o que se vê é uma máquina governamental que zomba da vida e se pauta por políticas genocidas. O momento atual exige ações enérgicas daqueles que estão no controle da nação. Se existe um criminoso entre eles e todos se calam, todos se tornam cúmplices. (Artigo assinado pelo professor Cesar Martins, docente do IBB/Unesp).

Redação 14 News

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