A reportagem do 14News conversou com Wilton Ferreira da Silva, de 45 anos, que é entregador de moto e sobrevivente de uma cabeça d´água na Ponte da Bocaina, em Botucatu.
O acidente ocorreu no final da tarde dessa sexta-feira (17). Na noite deste sábado, o 14News conversou com entregador que teve alta do Hospital das Clínicas durante a madrugada.
“Graças a Deus, fiz tomografia ontem na Unesp e nada de fraturas, mas muitas escoriações pelo corpo todo, principalmente na região lombar, pernas e pés, na mão direita; os pés e joelhos bem machucados. Agora seguindo orientação médica estou tomando Dipirona e Plasil e Tramal (para dores, náusea e vômito)”.
Segundo ele, tudo aconteceu muito rápido com “decisões tomadas em segundos”.
Wilton que mora na região da Avenida Vital Brasil relata que “o dia (inicialmente) foi normal. À tarde nos falamos por rede social. Ela me disse que iria no posto de saúde e pediu que eu passasse lá. Assim fiz. Nos vimos. Tinha uma entrega próximo ao mirante e ela foi comigo. Assim que descemos a estrada da Cuesta – até próximo à ponte – onde ela disse que gostaria de molhar os pés; então parei na ponte. Começou a chuviscar. Ela desceu e eu também. Ela foi para o outro lado, embaixo da ponte, quando vimos a correnteza forte. Ela tentou voltar. Tentei ajudar, e foi tudo muito rápido, pela força da água que nos arrastou, e infelizmente, ela veio a óbito”.
Ainda muito abalado, o sobrevivente diz que já perdido a namorada de vista, a todo momento tentava se salvar, sendo atingido por todo tipo de objeto como madeiras e toras. “Estou sem chão. Nós fomos arrastados por uns 40 minutos, brigando com a água, mas após uns 300 metros, já não visualizava mais ela. Estou vivo graças a Deus e à bag (mochila de entrega). Apanhei muito do rio. Até a exaustão. Até que desisti. Pensei que iria morrer. Por ser isopor a caixa que estava presa às minhas costas, ela me impulsionava para cima. Fiquei tentando segurar a mochila pela alça já que mantinha a minha cabeça para fora. Aí senti que parou. Olhei para os lados e estava um pouco longe da beira. Notei a água mais tranquila e pela vegetação vi que (realmente) eu estava parado. Deus colocou um pequeno monte de areia no meio do rio. Eu já não tinha mais força ainda mais com a mochila pesada e encharcada. Fiquei uns 20 minutos olhando para o céu e para a beirada. Pensando em sair da água. Mas confesso que não tinha força”.
Neste momento da entrevista o sobrevivente pediu desculpas e disse que ficou emocionado ao lembrar de toda a cena. “Levantei. Vi que (a água) estava na altura da canela, mas longe da margem. Foi Deus que deu força. Consegui sair da água e comecei a gritar por socorro. E fui subindo até chegar em uma casa. Os moradores me auxiliaram chamando os bombeiros e o SAMU”.
Também perguntamos como está o seu psicológico sendo que o acidente traz um fator traumático intenso. “Está sendo muito difícil, estou sem chão. A Camila era tudo de bom: linda, meiga e a pessoa mais maravilhosa que poderia encontrar em alguém. A gente estava junto há uns 5 anos”.
Sobre o dia que passaram juntos depois que surgiu de se verem, após Camila passar pelo posto de saúde do Jardim Peabiru, onde teria tomado uma injeção, em uma consulta de rotina, ele diz que nunca vai se esquecer desses últimos momentos que viveram antes do acidente quando puderam se ver. “Eles ficarão eternizados em minha memória. Foi ímpar, único e mágico, que ninguém vai apagar. Sempre tivemos planos de vida juntos”.
SOBRE O ACIDENTE
Camila Vigliazzi Bianconi Nunes de Oliveira, de 40 anos, foi levada por uma cabeça d’água. Consta no boletim de ocorrência da Polícia Civil que a tromba d’água chegou à “Ponte da Bocaina” e atingiu Camila e o seu namorado, de 35 anos.
Eles tinham deixado a moto em cima da ponte e foram a pé para a parte debaixo quando foram surpreendidos pela correnteza.
O corpo da jovem foi encontrado no meio da vegetação, a cerca de 2 quilômetros, em local de difícil acesso e que, inclusive, foi necessário acionar apoio de guincho e de trator para a sua remoção.
Foi apurado que o acompanhante de Camila, também foi atingido pela tromba d’água, porém, ele estava com uma mochila de água nas costas, conhecida como “Camel Bag”, o que teria auxiliado no momento em que a água o levou.
O sobrevivente foi levado ao PS do HC-Unesp pelo SAMU e encontrava-se em atendimento médico.
O Rio da Bocaina fica na estrada de terra descendo a igreja de Santo Antônio, (próximo à COHAB 4 – Jardim Bandeirantes), sentido ao Bairro Rural de Piapara.
Camila residia na Rua João Morato da Conceição, no acesso ao Jardim Peabiru, após a empresa Moldmix. Ela deixa 4 filhos. Se sepultamento será neste sábado, às 16h, no Cemitério Jardim em Botucatu. Dicas de prevenção.