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Paciente conta sua luta e investigação de sua doença

“Tudo começou em Cerqueira César. Eu trabalhava normalmente e percebi que, algumas vezes em que comia, minha barriga estufava, tinha muitos gases, uma dor muito forte do lado direito e acabava por vomitar o alimento que havia ingerido”. Foi este o início do relato da jovem Tatiane Garcia Presente Cavalcante, de 30 anos, mãe de dois filhos, natural de Cerqueira César.

Atualmente ela faz acompanhamento semanal no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) e, desde que apresentou os primeiros sintomas da Pseudo-Obstrução Intestinal (POI), foi atendida por diferentes especialidades, quais sejam: Clínica Médica, Neurologia, Cardiologia, Gastrocirurgia, Endocrinologia, Gastroclínica, Psicologia e Nutrição.



A POI é uma condição caracterizada por um comprometimento severo da propulsão gastrointestinal (GI), que resulta em sintomas sugestivos de obstrução intestinal parcial ou completa, podendo levar a falência do intestino.

Histórico

Após o aparecimento dos primeiros sintomas, seu quadro foi se intensificando. “Com o passar do tempo, a dor e os vômitos eram diários”, lembra Tatiane.

As primeiras investigações aconteceram em Cerqueira César. “Busquei tratamento médico no endocrinologista e em um clínico geral. Fiz vários exames e tomei diferentes medicamentos, pois acreditavam que pudesse ser gastrite. Nada resolvia. Os meses foram passando e só agravava; com isso fui perdendo peso”, explica.

Em outubro de 2021, quando passou por consulta no HCFMB foram identificadas alterações em seu exame de sangue e no ultrassom, que detectou pedra na vesícula e a inflamação do órgão. “Eu teria que tomar antibiótico para depois fazer a cirurgia. Fiquei internada três dias tomando o medicamento e depois tive alta para acabar o tratamento em casa, porém eu regurgitava a medicação. E foi só piorando”, lembra.

As dores abdominais eram intensas e, diante deste quadro, Tatiane procurou novamente o Serviço de Saúde de Cerqueira César. “Cheguei lá e expliquei que tinha feito ultrassom no HCFMB e o resultado foi pedra na vesícula. Como o órgão estava inflamado eu não poderia operar naquele momento, então me encaminharam para Avaré e lá fui operada”, relata.

Após a alta do procedimento cirúrgico, a paciente ficou bem durante uma semana. “Os sintomas começaram a voltar. Não conseguia me alimentar, a barriga continuava inchada e tinha dores. Só piorei. “Fui internada novamente em Avaré e repeti os exames”, diz ela.

Com o diagnóstico de aderência no intestino, Tatiane voltou ao Centro Cirúrgico. “Fiz a cirurgia do intestino e, com o tempo, permaneci do mesmo jeito (vômitos, dores e barriga inchada). Foi quando precisei da nutrição parenteral (NPP ); fiquei lá em Avaré três meses e fiz mais duas cirurgias”, lembra.

Instabilidades

No período em que esteve internada em Avaré, Tatiane contraiu uma bactéria no sangue. “Fiquei na UTI tomando antibiótico. Passei natal, ano novo e meu aniversário lá. Depois que saí e fui para o quarto consegui comer um pouco. Tive uma melhora no final de janeiro de 2022 e recebi alta para comemorar o aniversário do meu filho”, recorda.

Em março de 2022, realizando acompanhamentos com a equipe médica de Avaré, Tatiane percebia que continuava perdendo peso, não conseguia realizar todas as refeições do dia e, consequentemente as crises de ansiedade, eram constantes. “Foi quando consegui novo encaminhamento para a Nutrologia do HCFMB”, salienta.

No HCFMB uma nova bateria de exames foi realizada. “Pediram as biópsias que realizei em Avaré e cruzaram todos os dados desde o início dos sintomas”, pontua. A partir de um novo exame realizado no Hospital, foi identificada a área intestinal em que os alimentos paravam. “Fiz a quarta cirurgia e inseri a bolsa de ileostomia”, diz.



Em julho de 2022 um novo susto. Uma bactéria se instala numa válvula do coração de Tatiane e havia indicação cirúrgica. Contudo, o antibiótico indicado resolveu o problema após algumas semanas.

Ainda em julho “tive uma melhora boa”, lembra. A partir deste momento os nutrientes da NPP foram diminuindo até o momento em que a dieta de Tatiane era apenas oral. “Fui pra casa, fiquei um tempo bem até que minha bolsa de ileostomia começava a ser preenchida com muito líquido. Comecei a desidratar muito rápido e, em outubro de 2022, voltei para o HCFMB”, relata.

Alternativas e melhora

De acordo com Tatiane, a partir deste momento ela viveu a pior fase da doença. “Estava desidratada e desnutrida. Cheguei a pesar 30kg neste período”, diz. Ela continuava com dores abdominais, não conseguia se alimentar e permanecia com as crises de ansiedade. A internação era a melhor opção.

Diante deste cenário, o médico nutrólogo do HCFMB e professor titular da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB|Unesp), Dr. Sérgio Alberto Rupp de Paiva, buscou medidas que priorizassem a ingestão de nutrientes.

Segundo o especialista, o objetivo era cuidar dos efeitos da doença. “Estamos tratando as conseqüências, que são a desnutrição, hidratação e infecção”, explica.

“A sonda que é inserida pelo nariz não deu certo. A alimentação era colocada e eu já passava mal; voltamos para a NPP”, lembra Tatiane. Entre outubro e dezembro de 2022 a alimentação foi exclusivamente por este meio.

“Apresentei pequena melhora em dezembro. Comecei a me alimentar pela boca novamente e a expectativa pela alta hospitalar era grande. Para eu sair, precisava do suporte de Cerqueira César para o fornecimento dos insumos necessários à manutenção da NPP”, pontua Tatiane.

Com a leve melhora em seu quadro de saúde, Dr. Sérgio Paiva concedeu alta hospitalar de um dia para que Tatiane pudesse presenciar a formatura do seu filho em Cerqueira César. “Foi o dia mais maravilhoso da minha vida”, diz a paciente.

No dia seguinte ela retornou ao HCFMB e aguardava uma possível alta para o Natal e Ano Novo. “Lembro do Dr. Sérgio me dizendo que eu iria, porém voltaria. Ele me liberou dois dias”, afirma.

Com a virada de ano e a expectativa por uma alta hospitalar em definitivo (a paciente apresentava melhora frequente), Tatiane e o marido receberam treinamento da equipe médica e de enfermagem do HCFMB para manuseio do equipamento da NPP.

Durante a noite, Tatiane recebe a NPP com dois litros de soro fisiológico para otimizar o ganho de peso e ter a oportunidade de realizar as atividades do dia-a-dia com maior autonomia e liberdade.

As semanas foram passando e Tatiane voltou para casa. Atualmente ela realiza acompanhamento semanal no HCFMB e, segundo Dr. Sérgio Paiva, o constante diálogo entre HCFMB, DRS-VI e Secretaria Municipal de Cerqueira César foi fundamental para a manutenção da vida de Tatiane.

Redação 14 News

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