Uma das formas mais comuns de comunicação entre os seres humanos é através da voz. Produzida na laringe, ela expressa emoções, repassa informações e, para muitas pessoas, serve como um instrumento importante de trabalho. Por isso, pacientes com câncer na laringe que precisam retirar este órgão via procedimento cirúrgico passam a apresentar muitos desafios em relação à qualidade de vida e ao convívio social.
Para alguns pacientes do Ambulatório de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), esta história começou a mudar: pela primeira vez, o Hospital recebeu e disponibilizou laringes eletrônicas, equipamentos portáteis que permitem a retomada da comunicação por pessoas que passaram por uma laringectomia total, ou seja, pela retirada completa da laringe.
Movido à bateria recarregável, este aparelho amplifica os sons emitidos a partir de uma onda sonora contínua, e a vibração é transmitida por uma voz robótica, formando palavras através dos órgãos articuladores (lábios, língua e dentes), sem a necessidade de próteses.
A ação foi realizada a partir de uma parceria entre os Serviços de Fonoaudiologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HCFMB. Os aparelhos foram entregues na última terça-feira, 30, para 12 pacientes laringectomizados, depois de um processo de padronização e licitação iniciado em 2021. A ideia é que outros pacientes, em breve, também possam ser beneficiados com os equipamentos.
De acordo com o médico cirurgião de Cabeça e Pescoço do HCFMB, Dr. Carlos Segundo Paiva Soares, o câncer de laringe atinge, geralmente, mais pessoas do sexo masculino e usuários de bebida alcoólica ou cigarro por tempo prolongado. “Infelizmente, por vários problemas, muitos pacientes chegam ao Serviço com um tumor bastante avançado e, por isso, se faz necessária a intervenção cirúrgica. Dentre as mudanças pelas quais o paciente passa após a laringectomia, uma delas é a perda da voz, que diminui a facilidade de se comunicar com parentes e amigos, alterando a qualidade de vida”.
O médico destaca ainda que existem três formas de reabilitação dos pacientes laringectomizados, dentre elas a laringe eletrônica que, segundo o profissional, é a mais fácil de adaptação pelos pacientes. “Para o HCFMB, a aquisição destes equipamentos é muito importante para a reabilitação dos pacientes, e o trabalho da equipe multiprofissional foi fundamental para que esta melhoria acontecesse”.
Deixando falar a voz do coração
Arlindo Pizoni e Roseli Dogado, de Cerqueira Cesar, são alguns dos pacientes que estiveram presentes no Ambulatório de Especialidades do HCFMB, ouviram as explicações das representantes da empresa que trouxe o equipamento e foram beneficiados com uma nova forma de se expressar.
Laringectomizado há 3 anos, Arlindo teve a companhia da esposa Maria do Carmo para este momento especial. “Quando ele perdeu a voz, fiquei muito triste, mas, a partir dos treinamentos dados pela fonoaudióloga, comecei a entender algumas palavras. Agora, com esta laringe eletrônica, fiquei muito feliz com o resultado e agradeço a todos os envolvidos nesta conquista”.
Já Vitória Dogado Brandão, de 18 anos, ouviu a voz de sua mãe pela primeira vez na vida, pois Roseli fez a laringectomia em 2002. “Para mim, é um grande sonho, pois sei das lutas que minha mãe passa, ainda mais com o AVC que ela teve há 4 anos. Agradeço a Deus e a todos do Hospital por este momento, é muito gratificante”.
A fonoaudióloga do HCFMB Elaine Lara Mendes Tavares aponta que os equipamentos vieram justamente no mês em que se celebra o Dia Nacional do Laringectomizado, lembrado no último dia 11, e pontuou o retorno das reuniões presenciais, em outubro, do Grupo de Apoio ao Laringectomizado do HCFMB, conduzido pela Equipe Multiprofissional de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, que auxilia na reabilitação integral do paciente. “Além da área médica, também contamos com a participação da Fonoaudiologia, Psicologia, Nutrição e da Odontologia, que contribuem de forma significativa para reintegrar os laringectomizados ao convívio familiar e social, melhorando a qualidade de vida”, encerra. (Da assessoria do HCFMB).