Jucieli Albuquerque, 25 anos, casada e mamãe da Maria de 5 anos. Essa é a profissional que faz um trabalho voluntário cobrindo com tatuagens as marcas deixadas pelo corpo das mulheres que passam por tratamento do câncer, violência doméstica ou automutilação.
“Comecei minha carreira profissional em 2015, após nascimento da minha filha e com apoio do meu marido (Jair) abri em casa meu estúdio. Primeiro iniciei com trabalho em design de sobrancelha, onde segui me dedicando e trabalhando muito. Fiz dezenas de especializações na área feminina, como micro pigmentação. Em 2019, veio a curiosidade na tatuagem e sem nenhuma estrutura comecei a estudar. O que aprendia aplicava nos meus familiares. Sempre tive muito apoio do meu marido e da família”, contou a profissional ao 14news.
Em 2018 e 2019 foi um ano bem complicado para sua família. “Nesse período tivemos que aprender a ser mais sensíveis e cada dia melhor. Alguém muito especial para mim estava passando por um processo de superação, vencendo a depressão. Ela me pediu para tatuar uma área onde tinha uma cicatriz, que não trazia boas lembranças. E eu sempre amei desafios. Assim, caímos de cabeça nisso, e ao finalizar foi uma sensação tão gratificante para nós duas. Foi aí que nasceu em mim um sentimento de que precisava fazer isso mais vezes. Eu queria trazer novos sorrisos. A ideia foi de tornar algo ruim em bom. O trabalho foi sendo feito primeiro nela e depois em todas que passaram ou necessitaram desse momento de mudança”.
Nesse contexto, diz ela, surgiu o Projeto “CONT;NUE”. “Ele nasceu do amor, do cuidado, felicidade e empatia”. “E assim fui me envolvendo nesse projeto, e nele atendo mulheres que sofreram com automutilação, agressão doméstica e mulheres que superaram o câncer de mama”, comenta.
EVOLUINDO COM O TRABALHO
“O projeto para mim é algo muito além. É um propósito que Deus me encaminhou e quando estou em atendimento me sinto completamente realizada. É lição. É prática de amor diário. É o meu gás”, conta Jucieli.
Até hoje foram atendidas em torno de 40 mulheres. Elas sempre enfrentam perguntas sobre o que ocorreu para surgir aquela cicatriz. “Isso machuca, pois traz uma lembrança difícil que a maioria preferia não recordar. Dói, machuca e é cruel. E tatuando, criando uma arte linda ali, fazendo uma reconstrução de mama, sobrancelha, isso faz com que a pessoa tenha um novo olhar: de gratidão e felicidade, que temos tanto para seguir e viver”.
Para participar do projeto a interessada deve enviar uma mensagem ao Instagram @continue.ofc onde será feito um cadastro após o preenchimento de uma ficha. “Lembrando que o pré requisito nunca será contar a sua história. Não queremos mexer em uma ferida, porém, nós atendemos que é natural acabarem contando. Lembrando também que se não sentir vontade, não é preciso relatar esse detalhe”.
HISTÓRIAS QUE MARCAM
“Todas as histórias me marcam de alguma maneira. Sempre tenho algo a aprender. Sou grata a todas que participaram do meu projeto. Espero conseguir levá-lo para o resto da minha vida”, deseja a profissional.
Jucieli diz que é agradecida por poder ajudar. “Sigo com meu trabalho hoje ao lado da Maria Paula, de 18 anos (minha aprendiz) e minha família com atendimento exclusivo feminino em Botucatu. E é gratificante poder participar da vida de cada mulher que aqui passa”, destaca,
O atendimento funciona na Rua Curuzu, 737 A, no centro de Botucatu. O local é um studio exclusivo feminino.