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Mulher relata assédio de motorista de aplicativo

Erika, de 27 anos, que foi vitima de assédio de um motorista de aplicativo falou neste domingo (31) com o 14News.

Ela escreveu um relato contando como tudo aconteceu quando pegou o veículo com o filho e em determinado momento percebeu que corria risco.

“Bom, agora mais calma, depois do momento aterrorizante que passei com meu filho, consigo contar o que passamos. No dia 29, após eu sair do meu serviço, fui em casa para pegar o Miguel para irmos até a casa da minha tia, na Vila Assunção, onde é de costume irmos. Chamei um Uber pela 99, onde nos deixou lá, sem problemas algum. Quando foi entorno de umas 9 e 30 falei para minha tia que iria embora para não ficar tarde; meu marido estava fazendo prova da faculdade, e como eu estava muito cansada, não quis esperar ele. Então chamei outro Uber pela 99, onde pelo App, o rapaz já estava a demorar; até mandei uma mensagem para ele “demora muito moço?”; e ele disse que estava em outra corrida. Apenas confirmei o número da casa e ele chegou. Minha tia entrou e eu entrei no carro com o meu filho. Ele já ligou o carro e saiu; e ali ele perguntou: você não viu que eu estava em outra corrida? Eu disse, não. Mas não me importei, e ele perguntou: você já tem o dinheiro trocado, eu disse tenho 5, o resto no cartão débito, ou faço PIX, o que for melhor para ti. Ele então disse que podia fazer o PIX. No mesmo momento eu fiz o PIX de 7 reais, onde tenho o comprovante aqui, e ele seguiu”.

MUDANÇA DE CAMINHO

“Chegando perto da Dubom Espetinhos ele questionou o caminho. Eu disse – é essa rua mesmo, onde o GPS está mandando ir. É aqui que vai para minha casa; ele teimou comigo e desceu em direção à Curuzu, onde eu insistia em dizer para ele que ali não era o caminho da minha casa. Ele fingia não me ouvir, como se eu não tivesse ali. Pedi para ele subir a rua perto da Escola Pedro Torres, e dar a volta, pois minha casa era para direção da Cohab, mas ele seguiu reto e desceu uma rua deserta onde vai para Vila Jardim, Comerciários, não sei explicar. Ali eu já estava em desespero, e meu filho agitado, pois percebeu o meu nervoso; o Miguel é uma criança muito esperta, aí eu chorando baixo e o Miguel também. Eu disse – moço, pelo amor de Deus, aqui não vai para minha casa. Essa rua não tem saída, você não esta vendo? Ele foi e parou o carro nessa rua. O que ele queria? Qual era a intenção dele? Mesmo vendo meu filho ali, ele não teve respeito algum, nem vendo a criança. Imediatamente mandei mensagem para meu marido e como vi que a Internet estava ruim eu fingi ligar para ele e falei: oi amor, já estou chegando, você esta acompanhando em tempo real, não esta? Eu já estou indo, acho que o moço cortou caminho, só isso. Então ele ligou o carro e virou voltando para a Curuzu, e falei para meu marido, já estou chegando continua me acompanhando. Aí fingi desligar o celular, pois ele estava acelerando muito o carro, e muito nervoso. Eu abraça meu filho e ambos com muito medo. Falei: moço, para o carro que eu quero descer, por favor, meu filho não está bem, para o carro por favor, então ele começou a dar porradas no volante e mandar eu calar a boca e que ele não ira parar, e que ia seguir o caminho que ele quisesse, e me xingando de nome horríveis; então ele passou a rua que ia para minha casa e seguiu por trás pelo Senai. Eu e meu filho chorando, então ficamos bem calados.

-A mulher postou o trajeto feito pelo motorista.

DESCIDA DO CARRO

Ele me deixou na rua da minha casa, um pouco mais para frente, 4 casas à frente, onde descemos, aí quando desci e tirei o Miguel. Aí eu falei: isso não vai ficar assim, eu vou na polícia, e vou te denunciar, e saí andando e gritando na rua por ajuda e pelo meu marido, porque quando eu disse isso, ele ameaçou descer do carro para me bater e me xingou de todos os nomes possíveis; de mais baixo calão. Nisso, meus vizinhos saíram na rua e um casal de vizinhos saiu imediatamente, juntamente o meu marido. Quando eles saíram (para a rua), ele ligou o carro e sumiu, subindo outra rua correndo. Eu e meu filho estávamos apavorados e em prantos, passando muito mal; a vizinha na hora ligou para polícia e pegou meu celular para denunciar na 99, onde até agora não obtivemos nenhum retorno. A polícia não demorou muito a vir. Quando eles chegaram, eu mal conseguia falar. Um dos policiais perguntou ao meu marido se por acaso eu não teria discutido com o Uber ou deixado ele nervoso. Eu achei isso o cúmulo depois de tudo que eu e meu filho de apenas 7 anos passamos. Ainda ter esse tipo de questionamento, apenas por eu ser mulher. Eu e meu filho poderíamos estar mortos ou com danos físicos graves, mas graças ao Deus, que é convicto em nossas vidas, ali ele nos livrou. Estamos com o psicológico extremamente abalados. A cena horrível se repete na minha cabeça, e toda vez que toco no assunto, eu choro, porque o medo de algo ter acontecido com meu filho, ou na frente dele, foi enorme. Em momento algum em pensei em mim, só conseguia pensar nele, e pedia em voz baixa a todo instante para que nada nos acontecesse, e principalmente ao Miguel, pois ele é apenas uma criança.

O que passamos não foi um incidente qualquer, ou algo simples, foi um momento de terror sim, de pânico, de intimidação, de tortura!

-Outras mulheres denunciaram o motorista.

MAIS VÍTIMAS

Mas graças ao Deus, que eu sirvo, estamos bem e em casa, onde mais tarde contei tudo para minha prima. Ela tem um Facebook apenas onde postar suas vendas, e as minhas porque fora meu serviço fixo, trabalho com vendas de arranhadores e casas de pet. Ela aproveitou e usou junto comigo o Facebook para alertar outra mulheres; e acharmos o indivíduo. Não imaginávamos que seria tão rápido, onde ali mesmo, várias outras meninas imediatamente mandaram mensagens para ela, relatando tudo que aconteceu com elas, envolvendo também com o mesmo cara. Muitas outras entraram em contato comigo pelo WhatsApp falando sobre tudo que fez elas passarem: assédio, danos morais e abuso.

RECEIO DE DENUNCIAR

Muitas se calaram por medo de não acreditarem – e por apenas ele ser homem – que para mim isso não é ser homem. ele é um ser desprezível. Eu também fiquei com receio, principalmente na hora que ele me intimidou, e quando o policial questionou falando que seria a palavra dele contra minha, mesmo vendo eu e o meu filho aterrorizados, mas eu tenho um filho homem, que todos os dias ensino para ele como se deve tratar uma mulher; que jamais deva desrespeitá-la ou intimida-la ou tocá-la sem sua permissão e como ser um homem de caráter. Sei que isso ficará para sempre na cabecinha dele, assim como na minha. Então por isso não vou me calar e aconselho a todas as outras que ele abusou de diferentes formas: não se cale também. Juntamente comigo, outra moça foi denúncia-lo por abuso, e outra irá na semana que vem quando chegar em Botucatu; outra já teve feito um BO contra ele; só que por medo e por falta de empatia na parte da justiça, ela deixou quieto e não deu mais andamento. Tenho mensagens e as provas de todos, assim como as minhas (algumas ainda com receio e vergonha de expor, outras me permitiram).

APÓS O FATO

Meu filho e eu vamos passar por psicólogo. Precisei tomar calmante para conseguir dormir ontem porque na noite do acontecido só sabia chorar. O Miguel do nada quer tocar nesse e fala “aquele cara mau, mamãe. Aí eu mando ele esquecer que já passou e isso nunca mais vai se repetir. Cada dia mais estamos desprotegidas e agora, nem com uma criança junto, temos liberdade de ir e vir.

VERSÃO DO MOTORISTA

O acusado negou as importunações alegando que discutiu violentamente com a passageira por conta do percurso para chegar a casa dela. Ele admitiu apenas ter “perdido a cabeça” e ofendido a mulher por causa do percurso mais longo que ela se recusou a pagar.

O telefone celular do motorista foi apreendido porque houve a denúncia das moças e uma adolescente de 16 anos, que relatam terem sido constrangidas por meio de mensagens.


Reportagem anterior sobre o assunto:

Redação 14 News

Redação 14 News

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