Faleceu nessa segunda-feira (11), em Marília, às 16h, aos 88 anos de idade, o conhecido fotógrafo de Botucatu, João Atílio Audi. Ele estava internado há quase um mês no Hospital Beneficente Unimar, tentando se recuperar de diversos problemas de saúde.
O velório ocorre em Vera Cruz onde vivia com sua esposa América, de 84 anos. Era servidor público aposentado e fotógrafo por paixão e profissão.
Seu corpo será sepultado no Cemitério de Vera Cruz, nesta terça-feira (12), às 14h.
Histórico
João Atílio Audi nasceu em Itapetininga, em 24 de junho de 1928. Seu pai, Felipe Antônio Aud, imigrante de origem libanesa, nasceu na Síria, e sua mãe, Francisca Pagliuso, era filha de italianos natos. Tiveram cinco filhos: Felício, Dina, Fátima, Atílio e Carmélia.
João Atílio Audi, um homem que veio da roça e no final de sua vida tinha perfil no Facebook e estava aprendendo a “mexer” com computadores, um homem que sempre procurou o conhecimento.
Quando ainda bebê, um acidente doméstico o marcou por toda vida. Naquele tempo, as casas não possuíam fogão a gás, como hoje em dia. Era no fogão à lenha que as famílias, principalmente as mais simples, cozinhavam. Em um certo dia, dona Francisca, Chiquinha, como a chamava, fervia água para fazer o café com o pequeno Atílio nos braços. Em um descuido, o pequeno Atílio puxou a chaleira fervente que caiu sobre sua perna, deixando-o com uma pequena deficiência em um dos pés.
Com a morte de seu pai – Atílio tinha por volta de cinco anos –, a família começou a passar necessidades, pois o pai era um comerciante que veio a perder tudo nos negócios. Assim, o pequeno passou a trabalhar na lavoura, por força de sua mãe, que tinha essa vocação. Foram trabalhar na roça!
Mesmo com a deficiência em seu pé, Atílio nunca se esmoreceu, pelo contrário. Sempre era destaque em jogos de futebol, corrida e até basebol, nos torneios que havia na comunidade japonesa, no município de Júlio Mesquita. Chamavam-no de Jonzinho. Lá trabalhou em lavouras de feijão, amendoim e algodão. Ainda jovem, trabalhava com seus tios.
Fez os estudos primários em Júlio Mesquita, prestou concurso e passou a ser funcionário público como servente escolar. Naquela época, um simples servente era considerado cargo de autoridade local, participando de eventos em palanques e cerimônias públicas; sempre era convidado e respeitado.
Como sempre foi uma pessoa com uma inteligência acima da média, buscava o tempo todo o conhecimento. Através de cursos por correspondência, Atílio buscou se especializar. Pelo Instituto Monitor, fez eletrônica básica, como técnico em eletrônica, e um curso de fotografia. Apesar de realizar reparos em rádios em sua época, foi a fotografia que o fez se apaixonar. Cultivava essa paixão apenas nos finais de semana ou nas folgas do Grupo Escolar Castro Alves, onde trabalhava.
Com sua câmara de fole – hoje em dia se diz “câmera” –, fazia a magia de revelar a realidade à sua volta, da família, dos amigos e de seus “fregueses”. Em sua residência mantinha o laboratório, um quarto escuro feito de papelão e panos pretos, fazendo assim o “quarto escuro”, local de transformação daquilo que havia fotografado; o que estava latente transformava em visível.
Nessa época, em 1953, já era casado com América Fernandes Sobreiro Audi, companheira por mais de 60 anos de amor e respeito mútuo. Dessa união nasceram três filhos, Jane, Janira e Ademir. Sua mãe, a dona Chiquinha, morou com a família até o seu falecimento, em 1974.
Ofício que tinha iniciado em Júlio Mesquita, foi em Vera Cruz que teve maior êxito, montando um estúdio fotográfico na rua principal da cidade, a antiga Rua 5 de Julho. Lá, ele fazia fotos para casamentos, batizados, formaturas e o famoso retrato em 3X4, para documentos. Foi na cidade também que iniciou a novidade da época, os famosos monoclinhos, que eram feitos com filmes slides coloridos, recortados e acondicionados numa lupa de plástico. Fez muito sucesso nessa atividade, viajando por toda a região de Marília, sempre aos finais de semana, devido ao seu ofício na escola.
Novamente em busca de novos horizontes, Atílio e América mudam-se para Botucatu, desta vez em razão de uma aprovação num concurso público para trabalhar na antiga Delegacia de Ensino de Botucatu. Nas horas de folga, Atílio se dedicava àquilo que mais amava: fotografia. Na Delegacia de Ensino permaneceu até o ano de 1988, quando completou 35 anos de trabalho. Enfim, sua merecida aposentadoria. Agora sim pôde se entregar de vez ao ramo fotográfico!
Montou seu próprio estúdio, inicialmente na Rua Padre Salústio, numa confluência que ele chamava de cinco esquinas. Depois instalou seu estúdio, o Foto Audi, na Rua Brás de Assis, 129, local também de sua residência. Lá ele fazia o que gostava: tirar fotos.
Em Botucatu fez inúmeros amigos, porque não guardava seus conhecimentos como segredo. Dividia com os amigos o que entendia de fotografia, passava as dicas para os mais jovens. Também fazia de seu estabelecimento um local de parceria entre os fotógrafos locais: quando um não tinha um produto químico, filmes ou papéis fotográficos, emprestava-o e vice-e-versa. Por seu jeito generoso e amigo, foi considerado o “Pai dos Fotógrafos”.
Em 2004, retornou a Vera Cruz por insistência de dona América, fechando o ciclo do Foto Audi, local que deixou saudades. (Do Jornal O Rolo).