Vários estudos científicos têm mostrado que indivíduos que seguem um padrão alimentar vegetariano (excluem o consumo de todos tipos de carnes) têm menor risco de desenvolver hipertensão, diabetes, obesidade e vários tipos de câncer e melhor controle de peso, quando comparado aos onívoros (consomem todos os grupos alimentares, incluindo as carnes).
A proteção observada nos vegetarianos em relação a diversas doenças crônicas, levanta a hipótese que tais benefícios possam ser atribuídos a alta quantidade de nutrientes antioxidantes provenientes dos alimentos vegetais que os indivíduos vegetarianos consomem.
Diante deste contesto, pesquisadores do Instituto de Biociências da Unesp de Botucatu, avaliaram a concentração de uma enzima antioxidante, a heme-oxigenase-1 (HO-1), presente no plasma de onívoros e vegetarianos, bem como o efeito do plasma desses indivíduos em células endoteliais cultivadas em laboratório, uma vez que estas células compõem a camada interna dos vasos sanguíneos.
Do total de 745 participantes inicialmente recrutados para o estudo CARVOS, realizado no Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, foram incluídos no estudo 44 onívoros e 44 vegetarianos do sexo masculino e saudáveis.
Os resultados mostraram que a concentração de HO-1 estava aumentada nos onívoros quando comparado com os vegetarianos. Quando avaliamos as células endoteliais, o plasma dos onívoros, mas não o dos vegetarianos, induziu um aumento de HO-1 e de óxido nítrico (responsável pelo relaxamento dos vasos sanguíneos), além de estimular a produção de moléculas que indicam estresse oxidativo e morte celular.
A produção de HO-1 no organismo é estimulada quando há excesso de estresse oxidativo nas células. Mas, se os indivíduos que participaram deste estudo são saudáveis, por que que os níveis de HO-1 apresentou-se aumentado no plasma dos onívoros em relação aos vegetarianos, e induziu modificações nas células endoteliais?
A relação entre o consumo de carnes e alimentos baseado em vegetais é bastante discutido na literatura científica. Estudos prévios demonstraram que o alto consumo de carne vermelha e processada aumentou os níveis de estresse oxidativo, enquanto que o oposto foi visto quando se consumiu uma grande quantidade de vegetais, frutas e grãos integrais.
Nossos achados sugerem que o padrão alimentar vegetariano, quando saudável, contribui com a proteção das células endoteliais. Por outro lado, fatores circulatórios presentes no plasma dos onívoros (como moléculas oxidantes e inflamatórias) podem estar promovendo um ambiente oxidativo nas células, estimulando a defesa antioxidante e a produção de óxido nítrico como um mecanismo de proteção para minimizar o estresse oxidativo.
Coordenado pela Valéria Cristina Sandrim, pesquisadora e professora do Instituto de Biociências da Unesp, no câmpus Botucatu, o estudo foi desenvolvido pela Naiara da Costa Cinegaglia como parte de sua tese de doutorado. A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e seus resultados foram recentemente publicado em revista da American Heart Association.
Estudos como este são importantes para explorar os efeitos moleculares promovidos pela dieta vegetariana em relação a saúde cardiovascular.
O acesso ao artigo está aberto a todos os interessados:
https://doi.org/10.1161/JAHA.119.015576
Naiara Cinegaglia, Julio Acosta‐Navarro, Claudia Rainho, Luiza Antoniazzi, Sarah Mattioli, Caroline Pimentel, Raul D. Santos, e Valeria Sandrim. “Association of Omnivorous and Vegetarian Diets With Antioxidant Defense Mechanisms in Men”. Journal of the American Heart Association, Junho de 2020.
–Por Naiara Cinegaglia.