A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo registrou, em 2022, um aumento de 37,9% nos procedimentos ligados ao diagnóstico e tratamento da obesidade em pacientes menores de 14 anos de idade. No ano, foram 2.199 atendimentos, entre procedimentos diagnósticos, cirúrgicos e clínicos em hospitais e ambulatórios da rede estadual. Já em 2021 foram 1.594 atendimentos ambulatoriais, incluindo internações. O Dia Mundial da Conscientização contra a Obesidade Mórbida Infantil foi instituído no dia 3 de junho para alertar sobre um dos mais graves problemas de saúde pública no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Para a doutora Márcia Viola, nutricionista e diretora técnica do Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital Infantil Darcy Vargas, o número de pacientes pediátricos com obesidade teve aumento significativo nos últimos anos e “a situação foi agravada no período de pandemia de Covid-19, em que as crianças e os adolescentes permaneciam mais tempo em casa, sentadas ou deitadas, geralmente na frente de telas. Os hábitos alimentares ruins persistiram, levando ao consumo exagerado de alimentos processados e ultraprocessados, horários de refeições irregulares e qualidade do sono ruim”.
Somando os casos de 2019 e 2020, foram feitos 900 procedimentos clínicos ambulatoriais por diagnóstico de obesidade em pacientes com menos de 14 anos de idade. Nos dois anos seguintes, foram 3.790 atendimentos. Observando conjuntamente 2021 e 2022, foi registrada uma alta de 319% em todos os atendimentos relacionados a esta condição em toda a rede SUS do estado em relação aos dois anos anteriores. De janeiro a março de 2023, já foram realizados 704 atendimentos.
As crianças entre 5 e 9 anos de idade são as mais atendidas, representando 54% dos procedimentos ambulatoriais por obesidade em 2022 e 53% em 2023. Já os pacientes entre 10 e 14 anos são os que mais demandam internações hospitalares por apresentarem quadros de obesidade. Nos últimos 5 anos, o excesso de peso foi a causa de sete mortes de crianças de 0 a 14 anos registradas na rede estadual do SUS.
Segundo a Dra. Viola, o excesso de gordura corporal na infância e adolescência está associado a diversas doenças que podem se desenvolver a longo prazo, como diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, aumento do colesterol, aumento do risco para doenças cardiovasculares, aumento do risco para o desenvolvimento de diversas formas de câncer, além de problemas psicológicos como depressão, associada a baixa autoestima, bullying, ansiedade crônica e problemas de socialização.
Prevenção
O combate à obesidade infantil é mais efetivo quando começa cedo, ainda no período de amamentação. O bebê que recebe exclusivamente o leite materno até o 6º mês de vida tem menos chances de ser uma criança obesa. Se for necessário complementar a alimentação com fórmulas infantis, é importante seguir recomendações médicas.
Quando o bebê cresce, os pais devem introduzir corretamente os novos alimentos, incluindo todos os grupos alimentares, preparados com pouco sal, azeite de oliva e temperos naturais. Não se deve utilizar açúcar no preparo, evitar bebidas prontas industrializadas e oferecer frutas ao invés de suco de frutas.
Além disso, os alimentos dados à criança devem ser de cores e texturas diferentes, incentivar a prática de atividade física regular, limitar o tempo de exposição a telas, estabelecer uma rotina de sono e incluir a criança na escolha e preparação das refeições são práticas recomendáveis. Ainda de acordo com a Dra. Márcia Viola, os hábitos familiares são fundamentais para prever a obesidade das crianças e, se não forem saudáveis, é improvável que o tratamento da obesidade infantil seja bem-sucedido.
Para os pais preocupados com o peso dos filhos, a nutricionista do Hospital Darcy Vargas recomenda que, junto com uma observação da condição física da criança, o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) é uma forma simples de saber se há risco nutricional a partir dos 6 anos de idade. O IMC é calculado dividindo o peso da criança pela sua altura ao quadrado, mas a indicação de sobrepeso ou obesidade varia de acordo com a idade e sexo da pessoa com menos de 18 anos.
Assim, o índice de massa de uma menina de 10 anos com 1,4 m de altura e 37 kg é de 18,8 Kg/m², considerado normal. Esse mesmo resultado, no entanto, indicaria sobrepeso para uma menina de 8 anos ou obesidade para um menino de 7. É importante o acompanhamento de um profissional para tirar dúvidas, mesmo sabendo fazer o cálculo.