Foi assinado nessa terça-feira (7), pela Prefeitura e a empresa Espala Engenharia Ltda, o contrato para revitalização completa do Hospital do Bairro, em Botucatu.
Essa assinatura ocorreu após processo licitatório. As obras devem ter início nos próximos 15 dias.
“Muito trabalho, responsabilidade com dinheiro público para chegarmos até aqui. O sonho de termos novamente um Hospital público municipal só está começando”, disse o prefeito Mário Pardini.
O hospital municipal Jardim do Bairro (antigo Sorocaba) deve funcionar para casos de média complexidade e que necessitam de cirurgias mais simples.
A história do hospital. Veja a reportagem postada quando houve a reabertura, após aquisição do imóvel e reforma com nova fase de atendimento a partir de junho de 2013:
“Hospital do Bairro”: o gigante que ressurge com PS Pediátrico
Dia 8 de junho de 2013. Data em que um gigante ressurgiu em Botucatu. E o povo, que um dia chegou a perder a esperança de vê-lo em pé, e o abraçou quando foi preciso, estava lá para aplaudir e presenciar um momento histórico para a Cidade: a reabertura do Hospital do Bairro e inauguração do Pronto-Socorro Pediátrico “Profº Dr. Antonio de Padua Campana”.
A cerimônia foi acompanhada por centenas de populares, profissionais da saúde, ferroviários aposentados e autoridades públicas e políticas de Botucatu e região. Destaque para as presenças do prefeito de Botucatu, João Cury Neto; vice-prefeito Antonio Luiz Caldas Júnior; presidente da Câmara Municipal, Ednei Lázaro da Costa Carreira; subchefe da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo, Rubens Cury; deputado federal Milton Monti e o senador da república Aloysio Nunes Ferreira Filho.
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) da Unesp e Fundação para o Desenvolvimento Médico Hospitalar (Famesp), entidades parceiras na gestão do Hospital do Bairro, estiveram representados, respectivamente, pelo superintendente Emílio Carlos Curcelli e vice-diretor/presidente Dr. Antonio Rugolo Júnior.
Também estiveram representados no evento o secretário de Estado da Saúde, Giovanni Guido Cerri, através do coordenador de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde, Sérgio Müller; além da diretora de Faculdade de Medicina de Botucatu, Dra. Silvana Artioli Schellini, por meio da figura do vice-diretor, Prof. Dr. José Carlos Peraçoli.
A reabertura do Hospital do Bairro ainda contou com uma benção ecumênica, ministrada pelo vigário geral da Arquidiocese de Botucatu, monsenhor Edmilson José Zanin, e pela presidente do Conselho de Pastores de Botucatu, Ligia Minetto.
O tradicional hospital da Vila dos Lavradores encontrava-se fechado desde maio de 2011, quando a crise financeira da Associação Beneficente dos Hospitais Sorocabana (ABHS), com sede em São Paulo, afetou de vez a unidade de Botucatu, que foi forçada a fechar as portas e demitir funcionários.
Em agosto daquele mesmo ano, a Prefeitura de Botucatu comprou por R$ 1.100.000,00 o prédio do antigo Hospital Sorocabana, que passou por ampla reforma para modernização de suas instalações e também abrigar em seu térreo o Pronto Socorro Pediátrico “Profº Dr. Antonio de Padua Campana”. O investimento do Poder Público nesta obra foi de R$ 1.730.000,00, executada pela Construtora Mulotto.
Para a manutenção dos serviços do Hospital do Bairro e PS Pediátrico, a Prefeitura de Botucatu repassará à Famesp R$ 324 mil por mês: R$ 244 mil do Sistema Único de Saúde (SUS) e R$ 80 mil da própria Secretaria Municipal de Saúde. O acordo terá vigência de dois anos, podendo ser prorrogado por igual período.
PS Pediátrico: estrutura e referência
A abertura do PS Pediátrico “Profº Dr. Antonio de Pádua Campana” será mais uma referência de serviço de urgência e emergência não apenas para Botucatu como também para as cidades da região. A previsão é poder atender entre 3,5 mil a 4 mil pacientes por mês.
O Pronto Socorro Pediátrico terá sete consultórios; entradas independentes para os casos de emergência e sala de espera para aproximadamente 100 pessoas; salas de procedimentos/enfermagem, observação e raio-x; corredores distintos para funcionários e pacientes (anti-sala); quartos para médicos plantonistas; cozinha; e sanitários adaptados.
Ele ainda contará com sete leitos de observação sob a supervisão do Departamento de Pediatria da FMB, que disponibilizará diariamente três médicos durante o dia e outros dois de plantão no período noturno. Os pacientes com quadros menos complexos serão atendidos no novo PS Pediátrico e os mais graves encaminhados ao Hospital das Clínicas.
Neste primeiro momento, além dos médicos pediatras, o corpo profissional será formado por: assistente social (1); nutricionista (1); enfermeiros (3); técnico de farmácia (1); auxiliares de enfermagem (7); técnicos de enfermagem (12); oficiais administrativos (5); escriturários (4); técnicos de raio-x (4); recepcionistas (4); técnico de manutenção (1); auxiliares de serviços gerais (8); auxiliar de escritório (1); e motorista (1). Todos são profissionais recontratados após a demissão pelo fechamento do antigo Hospital Sorocabana. A previsão é contratar nas próximas semanas outros profissionais, totalizando quase 60.
Mas o antigo Hospital Sorocabana não irá abrigar apenas um Pronto-Socorro Pediátrico. No andar superior, onde já funcionam a parte de oftalmologia, ultrassonografia e raio-x, haverá um posto de coleta de exames, 14 leitos de retaguarda pediátrica, além de outros serviços, que gradativamente serão reabertos à população.
Apesar da inauguração oficial ter sido no último sábado, o PS Pediátrico do Hospital do Bairro iniciará atendimento à população no dia 17 deste mês (segunda-feira), a partir das 7 horas. O motivo está atrelado a realização dos últimos testes dos aparelhos hospitalares.
Repercussão
Quem esteve presente no evento ficou impressionou com à estrutura implantada no Hospital do Bairro, que fortalece ainda mais o serviço de saúde pública oferecido em Botucatu.
“Toda essa rede de assistência à saúde que está se desenvolvendo no Município vem de encontro aos nossos anseios e que usemos esse palco [Hospital do Bairro] para a formação de novos profissionais com grande qualidade”, atentou o vice-diretor da FMB, Prof. Dr. José Carlos Peraçoli.
“A Famesp tem mais de 30 anos e está atuando em parceria em 14 unidades de saúde pelo Estado. Essa [Hospital do Bairro] é a 15 ª unidade. Então é um orgulho muito grande. Para mim é um orgulho ainda maior porque sou pediatra, e por ver um Pronto-Socorro desta qualidade, com uma área física extremamente moderna e totalmente equipado aqui em nossa Cidade”, discursou o vice- diretor/presidente da Famesp, Dr. Antonio Rugolo Júnior.
“Queria agradecer o esforço dos funcionários da Famesp, Prefeitura e HC que se empenharam nesta última semana para deixar este hospital do jeito que está. Com este time fazemos qualquer coisa e em qualquer lugar. Faremos agora um refinamento, checando todos os equipamentos. E dia 17 próximo estaremos apostos para atendimento da população, o que representará um grande salto na assistência à saúde”, disse o superintendente do HCFMB, Emílio Carlos Curcelli.
“Aquele abraço de dois anos atrás se concretiza hoje com a entrega deste hospital, com a inauguração do único Pronto-Socorro Pediátrico da região. Hoje, as mães e pais tem que se dirigir até o Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas [distrito de Rubião Júnior]. Dependendo de onde essa pessoa mora na Cidade são mais de dez quilômetros de deslocamento, sem falar na dificuldade no período noturno, quando o transporte público é mais escasso. Agora esse PS aqui dentro do Município, com acessibilidade para o atendimento pediátrico de urgência e emergência, é algo imensurável para essas famílias”, comenta o secretário municipal de Saúde, Claudio Lucas Miranda.
“Sabíamos que um problema desta complexidade, que se arrastava por duas décadas, não resolveria num passe de mágica. Por isso agradecemos à direção da Faculdade de Medicina, ao HC, a Famesp, a Fundação UNI, instituições que desde o primeiro momento abraçaram a causa de salvar o hospital. Nem plantas deste prédio tínhamos. Em um ano e quatro meses foi feito um projeto executivo, licitação e uma obra desta envergadura. Neste período, muitos têm dificuldade de reformar a própria casa. Lembro apenas que Deus fez o mundo em seis dias porque não tinha gente torcendo contra. A reabertura do Hospital do Bairro só foi possível porque mais de 95% da população de Botucatu é gente de bem”, afirma o vice-prefeito Antonio Luiz Caldas Júnior.
“A saúde é o tema mais importante e o mais debatido. E o que está sendo feito aqui em Botucatu é exemplo não só para São Paulo, para o Brasil, em termos de atendimento de saúde”, exaltou o deputado federal Milton Monti.
“Eu cheguei a trabalhar para o hospital Sorocabana em São Paulo, como advogado. Eu vivi o início de uma longa, lenta e dolorosa agonia. Aí surge um ato de responsabilidade do prefeito [de Botucatu] e sua equipe. A Prefeitura não gerou a crise do hospital, mas o prefeito se considerou responsável. Agora não há mais dúvidas de quem é este hospital. É do povo de Botucatu e região que terá aqui um sistema nos moldes preconizados pelo Sistema Único de Saúde, hierarquizado, com responsabilidades definidas e, principalmente, eficiência”, argumentou o senador Aloysio Nunes.
O prefeito de Botucatu, João Cury Neto, em seu discurso, lembrou dos obstáculos enfrentados para a reabertura do hospital, pediu desculpas pela demora, mas afirmou que ao final tudo valeu a pena.
“Há mais de dez anos esse hospital gritava por socorro. Mas infelizmente as pessoas insistiam em lavar as mãos por que diziam frequentemente: ‘isso não é problema nosso’. Mas se fecha um hospital na Cidade é problema do povo, e se é problema do povo é problema do prefeito. Assim começamos a articulação dos parceiros necessários para que pudéssemos colocar esse hospital de pé. E neste dia 8 de junho começamos uma nova realidade. Quando desapropriamos esse hospital tínhamos o compromisso de reabri-lo, entregar principalmente à população que não tem condição de ter um plano de saúde particular, além de salvar os empregos dos antigos funcionários. E nada como entregar esse hospital ao seu verdadeiro dono: o povo de Botucatu”, enalteceu.
“Quero aqui pedir desculpas porque se demorou só tem um culpado: eu. Prefiro ser cobrado por ter demorado cinco meses e entregar algo a altura do povo de Botucatu do que em dezembro do ano passado ter entregado algo que não estava com a estrutura adequada. Infelizmente tiveram pessoas que mentiram e pregaram a desesperança à população, dizendo que este hospital não iria abrir. São pessoas que eu costumo dizer, torcem para o jacaré no filme do Tarzan. É uma pequena parcela, mas tem. Para eles, eu lamento informar: o Tarzan venceu. O Hospital do Bairro agora é nosso”, finalizou o prefeito de forma emocionada.
Histórico: construção, crise e solução
Em 1949 começou a construção do Hospital Regional da Associação Beneficente dos Hospitais Sorocabana. Com projeto do arquiteto João Cacciola, o hospital foi levantado em um terreno doado pela família Barbosa de Barros, medindo 80 por 80 metros e estimado em 6 milhões de cruzeiros. Parte dos recursos foi doada pelo governo do Estado. Outra parte sairia da contribuição dos ferroviários.
Em 23 de agosto daquele ano veio a Botucatu uma comissão, liderada pelo diretor da Estrada de Ferro Sorocabana (EFS), Acrísio Paes Cruz. Pretendia acertar detalhes da construção e aproveitar para anunciar a chegada de uma maquete, que ficaria exposta numa das dependências da Estação Ferroviária, mostrando a beleza e a modernidade do edifício.
O projeto previa a instalação de cem leitos, duas salas para cirurgias, obstetrícia, maternidade, gabinete dentário e farmácia. E mais. Com o novo hospital, o ambulatório da Caixa de Aposentadorias e Pensões seria grandemente aumentado com novos setores de raio-x, laboratórios, entre outros.
Ao final da visita revelou que o hospital ficaria pronto em 20 meses. Não ficou. Assim, algum tempo depois, sob insistentes pedidos dos ferroviários locais, o governo do Estado resolveu comprar a Casa de Saúde Nossa Senhora Menina, que vinha funcionando na Avenida Santana, onde hoje se encontra a sede do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o Espaço Saúde Profª Cecília Magaldi. Foi ali que começou a funcionar o Hospital dos Ferroviários.
Somente em julho de 1956, quase dez anos depois de iniciada a construção, o Hospital Regional Sorocabana anunciava pela imprensa local que já estava atendendo no seu novo prédio, na Vila dos Lavradores. A nota de agradecimento, colocando as novas instalações à disposição, foi assinada pelo diretor clínico Dr. Darwin do Amaral Viegas.
O antigo Hospital Sorocabana, assim conhecido pelos moradores da Vila dos Lavradores, desde o fim da década de 80 apresentava dificuldades operacionais. Anos se passaram, as dívidas da ABHS se acumulavam, e o hospital agonizava por socorro. A partir do ano 2000, em plena virada de século, momento em que se esperavam tempos modernos, cartazes indicavam a pré-história: faltavam-se médicos.
Apesar de um maior investimento feito pela Prefeitura, que de 2009 a 2011, aumentou de R$ 85 mil para R$ 240 mil os repasses mensais de custeio do setor de pronto-socorro, a unidade hospitalar foi obrigada a fechar e demitir funcionários.
A partir daí a Prefeitura de Botucatu iniciou uma extensa e burocrática iniciativa para salvar o Hospital do Bairro. Além de desapropriar e adquirir o imóvel ao Município, o prefeito João Cury Neto ainda se comprometeu junto ao Ministério Público do Trabalho, através de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), de que os mais de 100 ex-funcionários seriam reconvocados a trabalhar assim que o Poder Público encontrasse uma alternativa para a reabertura do Hospital do Bairro.
Em meio a esse processo, a Prefeitura articulou em conversas com a Famesp e Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu o melhor modelo de gestão e possíveis adaptações para a reabertura do antigo Sorocabana.
Serviço
Hospital do Bairro / Pronto Socorro Pediátrico “Profº Dr. Antonio de Pádua Campana”
Praça Alexandre Fleming, 11 – Vila dos Lavradores