Era julho de 2020. Naquele momento, um paciente com sintomas graves de COVID, que recebia alta hospitalar e precisava de acompanhamento especializado para superar as sequelas da doença, era encaminhado à Função Pulmonar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB).
Para que isso ocorresse foi realizada uma reestruturação do Serviço de Pneumologia e a “geração de um sistema de organização hospitalar, assistencial e ambulatorial”, segundo a pneumologista do HCFMB, Dr.ª Suzana Tanni. A partir daí, a Função Pulmonar tornou-se o Ambulatório Pneumo Multiprofissional Pós-Covid do HCFMB.
A consolidação deste Serviço passou pela aquisição de equipamentos de alta tecnologia a partir de pesquisas clínicas realizadas pela equipe multiprofissional da Pneumologia do HCFMB e da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB|Unesp).
Durante o período mais crítico da pandemia até a flexibilização dos casos, a equipe do Ambulatório atendeu 1.429 pacientes pertencentes à DRS-VI. Em 2020, foram 297 atendimentos. Em 2021, o número chegou a 648 e, por fim, em 2022 foram 484 pacientes.
Atualmente, além dos pacientes que foram hospitalizados, àqueles que tiveram COVID com sintomas leves e a persistência dos sintomas, também são acompanhados pelo Ambulatório.
Atuação do Ambulatório
Fadiga crônica, dores articulares, déficit cognitivo e dispneia são algumas das sequelas apresentadas por pacientes com quadro da COVID longa. Estes sintomas podem estar presentes em pessoas que não tiveram necessidade de internação hospitalar.
O Ambulatório Pneumo Multiprofissional Pós-Covid do HCFMB atende, por pelo menos um ano, por intermédio de uma equipe multiprofissional, pacientes que permanecem com sintomas diversos da COVID longa.
Estas pessoas são submetidas a avaliações de força respiratória, cardiorrespiratória, músculo-esquelética, nutricional, imagem com ultrassonografia e questionários de avaliações de impacto na saúde.
Durante todo o período da pandemia, o grupo realizou reuniões semanais com envolvimento de médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos e assistentes sociais com objetivo de discutir a implementação de protocolos e condutas assistenciais para a recuperação plena das pessoas.
“Foi assim que conseguimos homogeneizar grande parte das condutas médicas de intervenções”, lembra Drª Suzana Tanni.
Em virtude da especificidade do Ambulatório, outras especialidades também são acionadas pela equipe quando há necessidade. “Os pacientes podem apresentar sequelas neurológicas e por isso há professores da Neurologia que se prontificaram a fazer assistência conosco”, frisa Drª Suzana.
Além disso, as áreas de Clínica Médica e Cirúrgica já foram acionadas para auxiliar na condução de casos com COVID longa, pois “é um ambulatório muito complexo, com intervenções terapêuticas em investigação na maioria dos casos”, pontua a pneumologista.
Depoimentos
Denise Costa Mello é uma jovem de 39 anos, moradora de Bofete. O diagnóstico de COVID ocorreu em abril de 2021 e ela ficou 22 dias em ventilação mecânica na UTI COVID do HCFMB. Foram 15 dias iniciais de intubação e, após uma tentativa de extubação, foi necessário retornar com o procedimento inicial por mais sete dias.
Entre o diagnóstico e a alta hospitalar foram aproximadamente 40 dias de internação. Neste período, Denise precisou realizar hemodiálise em virtude dos problemas renais que surgiram durante o processo.
Após nove meses de alta hospitalar, a equipe de Nefrologia do HCFMB solicitou acompanhamento de Denise pelo Serviço de Pneumologia, uma vez que seus pulmões também apresentaram sequelas após a COVID.
Atualmente Denise é acompanhada pela equipe do Ambulatório Pneumo Multiprofissional Pós-Covid. “Aqui é tudo muito bem explicado. Quando preciso, eu ligo e eles tiram dúvidas; não tenho nada a reclamar”, diz ela.
“A reabilitação não é fácil. Gostaria realmente de agradecer a cada um de lá que esteve comigo no momento mais difícil da minha vida”, disse Angelo Ricardo Tavares Damico, 38 anos.
Angelo foi diagnosticado com a doença em maio de 2021 e esteve internado na UTI COVID do HCFMB durante 18 dias, sendo 12 dias de intubação. Ele já encerrou o acompanhamento no Ambulatório.
“Durante quase um ano fiquei retornando frequentemente para averiguação de como estava à melhora do volume de oxigênio e da trombose pulmonar que tive durante a COVID”, finaliza Angelo.
Em fevereiro de 2021, Genice Rodrigues do Prado, 54 anos, descobriu que estava com COVID. A botucatuense lembra que, depois de sair de uma Unidade Básica de Saúde para avaliação de outro problema de saúde, já passou mal e foi conduzida pelo SAMU ao Pronto Socorro Municipal.
Genice veio para o HCFMB e ficou oito dias internada na UTI COVID e sete em Enfermaria, sem necessidade de intubação. Após a alta hospitalar, foi imediatamente encaminhada ao Ambulatório Pneumo Multiprofissional Pós-Covid.
“Sempre fui muito bem atendida aqui. Os profissionais foram essenciais em minha vida, principalmente nos momentos mais ruins”, finaliza Genice. (Vinícius dos Santos da assessoria da Unesp).