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Entrevista: “Sempre acreditei que a assistência é o carro-chefe do nosso HCFMB”, diz André Balbi

É o fim de um ciclo e a consolidação de um legado. Após seis anos ocupando o cargo de Superintendente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), o Médico Nefrologista e Professor Titular da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB|Unesp), Dr. André Balbi, deixa uma herança de expansão de serviços, transparência e otimização de recursos humanos.

Dentre os seis anos de atuação, mais de dois foram no enfrentamento de uma pandemia que promoveu uma revolução na estrutura hospitalar. Nesta entrevista concedida à Gerência de Comunicação, Imprensa e Marketing (GCIM) do HCFMB, Dr. André fala sobre avanços e desafios alcançados em sua gestão.

A entrevista foi dividida em vídeo e texto e pode ser conferida.

  1. De modo geral, como avalia a sua gestão?

Resposta: Foram anos difíceis, mas considero uma gestão comprometida com o futuro de nosso HC. Acredito que houve uma participação ativa e crescente de diversos servidores com muito talento e capacitados para diversas funções, mas que estavam escondidos em diferentes locais do HC e que tornaram-se referências em suas áreas de atuação. Líderes foram formados, o que garantirá um grande progresso de nosso HC nos próximos anos. Arrumamos a casa da autarquia após recebê-la implantada pelo incansável trabalho do Prof. Emílio e da Prof.ª Irma (antecessores), de modo que traçamos uma direção a ser seguida pelos próximos gestores, independentemente do modo de condução de cada um. Outra marca importante foi o enfrentamento da terrível pandemia da COVID-19, que nos colocou numa situação inédita para qualquer gestor vivo do mundo. Dirigir um hospital público que se tornou referência nacional no combate desta pandemia tendo que improvisar dia após dia e lutar contra o desconhecido, com escassos recursos financeiros, não foi tarefa fácil. Mas graças à união de pensamentos e ações de todos os envolvidos (HC, FMB, Famesp, SES, Prefeitura de Botucatu, DRS-VI, entre outros), conseguimos passar por esse momento muito difícil e com muito aprendizado.

Gosto de dividir a minha gestão à frente do HC em três fases: a primeira foi da posse, uma cerimônia inesquecível para mim quando coloquei no discurso que ainda tinha esperança e que ela nunca iria acabar, até o final dos três primeiros anos. Foi uma fase de expansão de serviços e pertencimento do HC aos seus funcionários, marcada pela inesquecível semana de comemoração dos 50 anos deste hospital. A fase seguinte teve início em 2020 quando a pandemia se estabeleceu e, naquele ano e no seguinte, a preocupação única foi não deixar ninguém morrer, inclusive nós. Todos os objetivos traçados para aquele período foram abandonados em função do combate à pandemia e muitos gastos necessários foram feitos para salvar vidas. Da sala da Superintendência, vimos ou ficamos sabendo de pessoas jovens morrendo rapidamente em nossos leitos e sentimos o desespero daqueles que ficaram sem seus entes queridos, mas, com muito esforço, união e sem negar atendimento para ninguém que tenha nos procurado, o HC soube ultrapassar esta terrível etapa de sua vida. Infelizmente, a terceira fase desta gestão foi o ano pós-pandemia, quando fomos cobrados pelo que necessitávamos e praticamente sozinhos enfrentamos dificuldades crescentes. O apoio foi trocado pelo cansaço e pela descrença de muitos e muitos laços que fizemos durante a pandemia – parece que o vírus levou estes laços consigo ao ser controlado. A pressão em ano político chegou enorme, trazendo muito desânimo entre todos. Espero que 2022 nunca mais se repita na vida de nosso HC e que a esperança seja renovada nesta nova gestão. Hoje, o HC, tendo um orçamento adequado para suas necessidades, estará pronto para voar muito alto e é nisto que precisamos acreditar e buscar.

2. Quais foram os critérios utilizados e desafios enfrentados para nomear os novos diretores, incluindo o HEBo e Sarad?

Resposta: Nomear gestores é sempre uma tarefa muito difícil, pois precisamos de pessoas experientes em determinados lugares, sem esquecer-se de estimular os mais novos, pois a formação de novos quadros é essencial para a produção do grupo. Em nossa gestão, nós reestruturamos todas nossas diretorias, algumas delas inclusive com mudança de área física, e propusemos um novo organograma que está sendo avaliado pela Secretaria da Saúde e que, com certeza, estará mais adequado à realidade do hospital. Quanto ao HEBo e o Sarad, são dois grandes hospitais que foram integrados à autarquia HCFMB, mas ainda não têm ação plena por falta de financiamento com valores adequados. Mas foram muito bem conduzidos até aqui pela Profª. Silke Weber (HEBo), a enfermeira Nilza M. R. Brito (Sarad) e o Dr. Fernando Pimentel (SARAD).

  1. Ilumina HC – Como surgiu a ideia deste projeto e quais os benefícios aos pacientes e funcionários da Instituição?

Resposta: O Ilumina HC foi uma ideia do Departamento de Assistência à Saúde, sob o comando da professora titular Érika Ortolan e sua competente equipe, com o objetivo de arrecadar fundos para troca das lâmpadas antigas do HC por lâmpadas de LED. Além disso, pensamos em uma ação humanizada para levar as luzes de natal aos pacientes internados, que passariam as festas de fim de ano no HCFMB. Promoveríamos um Natal de luz aos pacientes, funcionários e parentes. Aos poucos, o Ilumina foi se repetindo e, ao final de seis anos, tornou-se um evento tradicional de humanização e integração de nossos pacientes com os funcionários e familiares. Espero que o Ilumina continue cada vez mais forte e tradicional para que famílias venham ao campus no final de cada ano receber o Papai Noel. É uma integração importante entre gestores, funcionários e pacientes.

4.Durante sua gestão, o HC avançou na ampliação de serviços e consolidação de projetos. Por exemplo, o Serviço de Odontologia (expansão e nova gestão), o Time de Resposta Rápida (TRR), a união dos SESMT’s da Famesp e do Hospital, o Projeto H, Enfermarias de Transplantes e Convênios, etc. Como foi possível avançar mesmo em meio a pandemia e diante da crise orçamentária?

Resposta: Nós iniciamos a gestão com a ideia de estabelecer regras para a produção assistencial ser maior em todos os serviços. Sempre acreditei que a assistência é o carro-chefe do nosso HC e esta ideia foi reforçada quando fui o primeiro Diretor de Assistência da autarquia, montando uma estrutura muito ampla e complexa. Tivemos a oportunidade de ter a frente desta diretoria a professora Erika Ortolan que, com sua equipe integrada, fez um trabalho magnífico dentro daquilo que havíamos combinado, o que nos possibilitou enfrentar a pandemia com relativo sucesso. Acredito que uma grande assistência humanizada é essencial, não só para os pacientes que atendemos, mas também para o ensino e a pesquisa, o que nos torna um dos principais centros de formação de médicos e demais profissionais do Estado de São Paulo.

A Odontologia, por exemplo, precisou expandir pela enorme demanda reprimida que tinha, além de poucos profissionais e espaço físico restrito. Com o investimento em pessoas e equipamentos e a gerência do Dr Ary, hoje de fato é uma odontologia hospitalar atendendo integralmente com profissionais altamente capacitados.

O TRR era uma ideia antiga, que nós já havíamos planejado desde o período em que eu era Diretor de Assistência. Uma iniciativa, apoiada pelo Departamento de Clínica Médica, que rapidamente agregou jovens médicos inspirados na liderança do também jovem Dr. Edson Fávero Jr, formando um time competente que nos ajuda muito na condução de nossas urgências e emergências e cujas ações foram essenciais durante a pandemia no sentido de preservar a vida de pacientes mais graves. Com certeza esse time é um dos orgulhos de nossa gestão.

Nosso programa de transplantes cresceu muito neste período, com o início do transplante cardíaco de pleno sucesso e o aumento do número de transplantes renais, de fígado, de medula óssea e de córnea. Hoje, estamos com uma equipe de transplantadores experientes que nos leva à condição de liderança em número de transplantes de rim e de coração em todo o interior de São Paulo. Acredito que seja função de um hospital terciário e quaternário como o nosso, investir em transplantes como forma de melhorar a qualidade de vida dos pacientes, além da questão financeira, uma vez que são procedimentos pagos pelo SUS como extra-teto.

O Núcleo de Convênios precisa crescer um pouco mais, embora seus resultados sejam animadores. Provavelmente a nova gestão do HC saberá como estimular esse crescimento.

Nesta gestão tivemos o prazer de ver o crescimento da liderança do engenheiro Fábio Picchiotti na condução do SESMT do HC num trabalho conjunto com a Famesp, o que nos possibilitou promover melhores condições de trabalho aos nossos servidores incluindo um novo local de trabalho com muito mais conforto do que o anterior. Esta integração é muito importante.

O projeto H, coordenado pela enfermeira Karen Aline Batista da Silva e pelo nosso Núcleo de Segurança, sob a coordenação do Rafael Almeida, conseguiu implantar o que parecia impossível, ou seja, fechar o Hospital dando mais segurança aos seus usuários. Os mais antigos ainda se lembram do tempo em que os cachorros passeavam pelo corredor principal do HC e, mais tarde, as catracas instaladas, porém sem controladores. Hoje, temos o Núcleo de Segurança instalado em um local mais adequado e as falhas que ainda existem estão sendo corrigidas aos poucos. O mesmo ocorre com a engenharia e a manutenção, áreas vitais do HC coordenadas pelo Rafael Athanazio, por Ana e que estão recebendo uma atenção especial de nossa equipe.

Destaco ainda o crescimento e a organização do Departamento de Gestão de Pessoas, antigo RH. A liderança da Adriana V. Godoy motivou inúmeros funcionários por meio do diálogo e do entendimento da importância do HC. Crescimento também no Departamento de Auditoria e Qualidade, por meio do qual a Patrícia Frazão, Elaine e Juliana fazem excelente trabalho. Destaco ainda o Setor de Compras em que a Patrícia Moratelli organizou e estruturou toda a equipe, o que fez com que nunca mais faltassem insumos no HC.

Foto de capa: Dr. André Balbi, Superintendente cessante do HCFMB.

O Departamento de Gestão de Atividades Acadêmicas, liderado pela Juliana Rugolo, passou a ocupar um lugar de destaque com toda sua equipe envolvida nas atividades extra assistenciais do HC e hoje é referência para os profissionais da saúde, incluindo docentes da Faculdade de Medicina. Além disso, é o DGAA que vem coordenando a implantação de nossa escola de ensino que, em breve, estará em funcionamento.

Não posso deixar de destacar a importância da Diretoria de Apoio à Assistência, coordenada pelo Dr. Cláudio Miranda, que passou a realizar um trabalho brilhante no nosso Pronto Socorro. Hoje, também cuida da renovação do Hemocentro, da ampliação da Nutrição e da Farmácia, gerenciando com a Ju, com a enfermeira Andreza, a nutricionista Marina e o farmacêutico Adriano, um Complexo de apoio à assistência prestada no HC.

Neste sentido, o Núcleo Interno de Regulação de Vagas, sob a coordenação da enfermeira Janaína Celestino, também coordena uma grande gerência ligada à assistência, organizando praticamente todo funcionamento das internações, altas hospitalares e atendimento ambulatorial.

O CIMED, sob a liderança do Marcelo Martins, continuou tendo papel central na organização assistencial do HC e o investimento feito neste período, embora tenha sido menor do que o esperado, foi muito significativo. O mesmo ocorreu com o Núcleo de Engenharia Clínica (NEC), no qual o Vinícius Ramires conseguiu organizar, preservar e manter contratos de atenção dos principais equipamentos que adquirimos, tornando-os mais confiáveis e com menor custo de manutenção. O NEC também ampliou sua área física, que agora está de acordo com o seu e crescimento e importância.

Toda equipe multiprofissional foi ampliada sobre a organização da professora Cristiane Chiloff, que também organizou os novos cursos de especialização que o HC passou a oferecer em plena pandemia. Presenciamos o crescimento essencial da fisioterapia, principalmente no tempo de pandemia, coordenado pela fisioterapeuta Leticia O. Antunes e pela ampliação necessária do Serviço de Psicologia, coordenado pela Vanessa P. Lozano.

Destaco também o trabalho incansável das Gerentes de Enfermagem Barbara Nery e Darlene Bravim e suas equipes que, nos tempos difíceis da escassez de funcionários, souberam conduzir com muita responsabilidade esta situação. Hoje a enfermeira Barbara nos auxilia no HEBo com bastante eficiência.

A Adriana e os demais funcionários do Setor de Imagem, Radioterapia e de Laboratório souberam como ampliar esses serviços mantendo a qualidade de atendimento que sempre apresentaram. Procuramos valorizar a Radioterapia e logo teremos uma ampliação, com a chegada de um novo acelerador linear que vai colocar nosso serviço como um dos principais do interior de São Paulo.

A pandemia nos trouxe a possibilidade de termos o Laboratório de Biotecnologia Aplicada (LBA), sob o comando da Profª. Rejane Grotto, que tanto nos ajudou e ajuda nos diagnósticos e nos convênios com outras instituições.

Por fim, investimos muito na Gerência de Comunicação, Imprensa e Marketing (GCIM), liderados pela Bruna Fioruci e pelo Guto Albano, porque acreditamos que é fundamental transmitir aos nossos colaboradores e à população que atendemos informações de modo claro e didático de modo que todos entendam nossas mensagens. Certamente, somos o hospital universitário que mais investiu em comunicação nos últimos anos, com enorme retorno, plenamente satisfatório.

  1. Em sua gestão, tivemos os 10 anos de autarquização do HC. Em sua análise, quais os avanços e retrocessos?

Resposta: Este é um marco histórico na vida do HCFMB e da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB|Unesp). Histórico, pois mexeu em toda estrutura de cargos, funções e ações que tínhamos antes. Foi um projeto que envolveu muitos gestores, particularmente os Professores Sérgio Muller, Pasqual Barretti e Emílio Curcelli. Tive o privilégio de acompanhar todo este momento de perto e vivê-lo dia a dia. A autarquização nos possibilitou aumentar o numero de leitos hospitalares, o parque de equipamentos, o enfrentamento da pandemia e muito mais. Porém, nos trouxe o aumento expressivo da demanda assistencial da região. Tenho certeza de que o saldo foi amplamente positivo e a autarquização será completa quando nosso orçamento for compatível com o que realizamos.

  1. Como conciliou a carreira acadêmica, fazendo concurso de professor titular, durante a gestão, uma vez que entrou como diretor clínico em 2009 ano em que ainda era médico contratado pelo Unesp?

Resposta: Esta é uma situação muito particular que envolve competência, oportunidade e apoio da minha equipe da Nefrologia. Somos um grupo que apoia seus colegas de trabalho para que eles possam dividir seu tempo com a universidade e com o HC. O resultado desta disposição é que temos vários nefrologistas com atuação de destaque em diferentes funções, tais como os professores Pasqual Barretti, atual Reitor da Unesp, Jacqueline Caramori, Vice-Diretora da FMB, Daniela Ponce, atual Coordenadora da Pós-Graduação do Departamento de Clínica Médica e o Dr. João Henrique Castro, novo chefe de gabinete do HC.

Tive condições de exercer o cargo de médico realizando pesquisa e ensino, mesmo não sendo estas minhas funções principais. Como médico, fiz parte do corpo de docentes da Pós-Graduação de meu Departamento e pude formar pesquisadores novos como a Profª. Daniela Ponce que, como nefrologista, soube me substituir na liderança de minha principal linha de pesquisa que é a injúria renal aguda e desenvolvê-la a ponto de sermos referência internacional neste assunto.

Durante meus anos de gestão, continuei acompanhando este grupo de pesquisa e mantendo uma produção de publicações bastante razoável, além de manter por alguns anos minhas atividades assistenciais e de ensino. Após prestar concurso para professor doutor, rapidamente realizei o concurso para livre docente e, tendo os critérios necessários para ser professor titular, fui em frente. Sou mais uma prova viva que a união de objetivos leva ao sucesso. É um orgulho para mim contar que entrei na gestão como médico contratado Unesp e sair 13 anos depois como professor titular de Nefrologia.

  1. Quais os planos que seguirá na carreira a partir de agora?

Resposta: Volto para a Nefrologia com bastante tranquilidade, pois aquela é a minha casa. Desejo todo o sucesso possível ao novo Superintendente, meu amigo de muitos anos de gestão, Dr. Zeca, e estarei sempre disposto a ajudá-lo quando ele achar necessário. Continuarei atuando como nefrologista do corpo clínico do HC e como docente da FMB, sempre apoiando as boas ideias e as boas intenções.

(Por Vinícius dos Santos – assessoria do HCFMB. Foto de capa de Bruno Giraldi).

Redação 14 News

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