O termo, embora derivado do inglês, dá nome a um movimento criado por um italiano que difundiu no mundo o hábito presente no DNA de seu povo: o de apreciar a comida com prazer, algo muito diferente do modo automático vivido pela sociedade contemporânea, que fatia o tempo entre o computador, smartphone e o fast food. Apesar de se tratar de um padrão que ainda engatinha por aqui, o slow food de Carlo Petrini está perto de chegar à sua terceira década, tempo em que ganhou adeptos de 160 países preocupados não só com a alimentação saudável, como também pela maneira que é cultivado tudo o que vai para o prato.
Comer bem e sem pressa tornou-se uma tradição na pequena cidade italiana de Bra em 1989. Em Bauru, a filosofia toma corpo aos poucos em um contexto similar ao de sua origem, que tem forte influência na valorização da agricultura familiar. A preocupação, além da saúde do consumidor, existe no combate à exploração dos recursos naturais e da mão de obra.
Alimentos produzidos de forma sustentável e que vão para as mesas de cerca de 40 famílias bauruenses são apanhados religiosamente às segundas-feiras no restaurante Balaio de Krishna Gastronomia. A ideia de fazer do estabelecimento um entreposto para pessoas que não abrem mão de levar para casa alimentos com a mesma qualidade encontrada nos pratos elaborados pelo proprietário e chef, Rodrigo Trovarelli, foi um sucesso. “Quem faz a adesão ao plano tem à disposição uma variedade de frutas, hortaliças e legumes, principalmente de época, produzidos sem o uso de agrotóxicos. Isso é um ganho para a saúde e também uma forma de contribuir com o desenvolvimento de negócios de produtores rurais locais, que passam a preferir a produção diversificada à monocultura”, afirma Rodrigo.
A conscientização, segundo Trovarelli, é o ponto de partida para simpatizantes do slow food que desejam mudar os hábitos alimentares e começar desde já a “poupança da saúde” que só uma dieta livre de vilões como alimentos industrializados podem oferecer. E a disciplina começa pelo paladar. “Tudo que é industrializado possui aditivos para potencializar o sabor e a textura. E isso, de certa forma, cria um costume de optar por alimentos que tenham muito sal e outros produtos artificiais que, muitas vezes, não oferecem qualquer benefício à saúde”, afirma. “O ideal, portanto, é que a pessoa disposta a mudar sua alimentação comece com experiências em dias alternados. Aos poucos, um prato com ingredientes saudáveis será apreciado e percebido como algo que alimenta e, ao mesmo tempo, nutre, ao contrário de fast food”, explica.
Saúde no prato
A hortaliça e a fruta que vão à mesa podem estar acompanhados de um inimigo oculto. A cada ano, o brasileiro chega a consumir cinco quilos de agrotóxicos, associados a 74% dos óbitos provocados por doenças crônicas não transmissíveis no Brasil, um índice que deve saltar para 89% até 2020, de acordo com relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Os riscos a que os defensivos agrícolas expõem a esmagadora parcela da sociedade são, no entanto, sanáveis a partir da adoção de simples hábitos, como a opção pelos alimentos orgânicos, cultivados em solo trabalhado e livre de pesticidas. “Procuramos conhecer cada produtor para certificarmos que todo alimento que consumimos é livre de defensivos agrícolas, altamente nocivos à saúde. Essa é mais uma vantagem do slow food”, ressalta Trovarelli.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) discute propostas de regulação na área de agrotóxicos que deve traçar diretrizes para avaliar e classificar a toxicidade dos produtos químicos usados nas lavouras. Diante da ausência de políticas mais contundentes quanto ao uso indiscriminado dos produtos, a própria agência divulga o ranking dos alimentos mais expostos aos defensivos. Pelo menos um terço dos vegetais consumidos no Brasil possui níveis acima do aceitável de veneno. O principal é o pimentão, seguido do morango, pepino e alface. O quinto item da lista é a cenoura, à frente do abacaxi, da beterraba, couve e do mamão. O top 10 do ranking é fechado pelo tomate.
Razões para tornar-se um adepto do slow food
Você mesmo pode fazer – Vale usar um cantinho do quintal ou uma jardineira para produzir o próprio alimento. O cheiro-verde ou tomate retirados do quintal e consumidos pouco tempo depois terão muito mais sabor e nutrientes;
Alimento amigo – O movimento slow food valoriza a produção local. E isso significa conhecer a origem do alimento consumido que é cultivado por um produtor da cidade ou mesmo do bairro onde mora;
Contra a extinção – Valorizar o trabalho do produtor rural local é também uma arma contra a extinção de alimentos. Isso mesmo. A preferência da população mundial por legumes e cereais ricos em carboidratos desfavorece o cultivo de outros ingredientes que podem simplesmente desaparecer. Um deles, na lista de 100 itens ameaçados, é a jabuticaba;
Comer e amar – A pressa que o dia a dia exige para que todas as tarefas e compromissos sejam cumpridos deve ser esquecida na hora de comer. A refeição feita com tranquilidade, valorizando o momento, ambiente e a companhia, está dentro do conceito de slow food, que sugere encontrar na alimentação bem estar, qualidade de vida e felicidade.
Quem é o chef Rodrigo?
A busca por autoconhecimento e independência levou Rodrigo a buscar novas experiências em diferentes lugares do Brasil e do mundo. Em 2008, teve a oportunidade de vivenciar as práticas por meio do associativismo para o desenvolvimento local, tornando-se consultor do projeto Empreender na Associação Comercial. Já em 2010, Rodrigo passou por uma profunda transformação pessoal e intelectual na sua estadia de dois meses na Índia. No país da espiritualidade, o chef pôde estagiar nas áreas de alimentação e Ayurveda.
Ao retornar para o Brasil, assumiu o restaurante do Ashram Vrajabhumi em Teresópolis (RJ) até o momento da sua segunda transformação. Em busca de novas vivências e aprendizados, em 2012, Rodrigo foi para Barcelona, na Espanha, estudar alta cozinha vegetariana na Escuela Bel Arte. Diante dessa experiência, o chef começou a criar a essência da sua filosofia, que se transformaria mais tarde no espaço do Balaio de Krishna no Brasil.
Em 3 anos de Balaio, Rodrigo se tornou referência em culinária vegetariana e orgânica. Ao lado de nomes renomados da alimentação saudável, como Conceição Trucon e Valéria Paschoal, o chef busca aprimorar seu cardápio todos os dias para levar o melhor da sua cozinha e sua energia para Bauru e região.
Feira Cultural
No mês de dezembro, o Balaio de Krishna traz para Bauru o primeiro evento cultural sobre alimentação saudável e Slow Food. A feira será aberta ao público com apresentação de música, exposição de artistas locais, além de diversos produtos orgânicos. No evento, ainda haverá oficinas sobre alimentação saudável com a nutricionista Conceição Trucon e o chef do Balaio, Rodrigo Trovarelli.
Onde? Balaio de Krishna (Rua Maria José, 12-71)
Quando? Dias 17 e 18 de dezembro, a partir das 8h
Mais informações pelos telefones (14) 3241-2262 ou 981479210 ou no Facebook: @balaiokrishna