Há dez anos, o empresário Bruno Abreu fundou uma empresa especializada em redução e prevenção de problemas em produtos digitais no chamado “Vale do Silício brasileiro” ー o Polo Tecnológico de Campinas, no interior de São Paulo. De lá pra cá, o negócio dele cresceu quase 60% em faturamento, segundo contou à Agência Brasil. O caso dele é apenas um entre vários projetos que, em busca de um lugar para se desenvolver, o encontram na pequena metrópole paulista.
Segundo a Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), as empresas do setor de tecnologia em Campinas tiveram faturamento médio de R$ 9,1 milhões em 2015, quando 18 mil pessoas estavam empregadas na região.
A prefeitura da cidade diz que possui o terceiro maior parque industrial do país, e é corroborada pelos números da entidade catarinense, que afirma que a região campineira é líder em volume de recursos em relação aos demais polos, ficando a frente do Rio de Janeiro (R$ 6,4 milhões), Florianópolis (R$ 5,2 milhões) e São Paulo (R$ 4,9 milhões). Considerando as vagas geradas no polo tecnológico, por densidade populacional (a cada cem mil habitantes), Campinas (1.678 por 100 mil) fica atrás dos polos de Florianópolis (2.891), Manaus (2.041) e Blumenau (1.816).
Há dois meses, o interior paulista recebeu outra demonstração de seu vigor econômico: a montadora General Motors (GM) anunciou um investimento de R$ 10 bilhões em duas fábricas ー uma em São José dos Campos e outra em São Caetano do Sul, na região do grande ABC. A ideia, segundo o presidente da companhia, Carlos Zarlenga, é aumentar o efetivo de funcionários, que hoje reúne 15 mil pessoas.
Voltando a Campinas, a eficiência econômica se mostra também nos serviços, já que, de acordo com a Secretaria de Aviação Civil do governo federal, os passageiros elegeram o terminal de Viracopos como o melhor do Brasil no primeiro trimestre de 2019. Foi a 11ª vez que o aeroporto é o mais elogiado pelos usuários, desde a concessão em 2013. Viracopos ficou com a nota 4,77 em uma escala de 1 a 5. Foi a melhor nota entre os 20 principais aeroportos do Brasil, que concentram 87% do fluxo de passageiros no país.
Todos esses dados ilustram uma realidade cada vez mais reconhecida no país: a de que o interior de São Paulo é uma região determinante para a economia do país. E há vários modos para ilustrar que os números são apenas a expressão da realidade.
A consultoria especializada IPC Marketing Editora, por exemplo, acabou de publicar um estudo afirmando categoricamente que o interior paulista é o maior mercado consumidor do Brasil, representando 53,4% do total de recursos gastos com alimentação, habitação, transporte, saúde, vestuário e educação, entre outros itens, em todo o Estado de São Paulo ー em números reais, são R$ 650 bilhões ao ano.
O Produto Interno Bruto (PIB) do quadrilátero paulista (Campinas, Santos, São José dos Campos e Sorocaba) supera R$ 1 trilhão por ano, representando 80% do PIB paulista e 27% do nacional, segundo dados do Seade e, no ranking das 25 melhores cidades para se viver em São Paulo, considerando três fatores: educação, renda e expectativa de vida, 19 são do interior, segundo o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do PNUD, órgão das Nações Unidas.
“É por isso que, sempre que há casas à venda em Jundiaí, Jacareí, São José dos Campos, Piracicaba, etc., os clientes correm atrás da gente”, afirma o corretor de imóveis Adilson Mendes, que trabalha em uma corretora especializada no interior.
Bauru é um exemplo a parte: segundo a consultoria Urban Systems, a cidade pulou, em um período de dois anos, da 68ª para a 45ª posição do ranking das 100 melhores cidades brasileiras para se investir em negócios. A pesquisa contabilizou cidades com mais de 100 mil habitantes e as dividiu por 42 indicadores reunidos nas categorias economia, saúde, educação, transporte, finanças, infraestrutura, sociodemográfica e segurança ー Bauru ficou à frente de municípios como Blumenau e Araçatuba.
A revista Exame publicou reportagem em dezembro passado afirmando que, até 2020, cerca de 11 milhões vão pular para as classes A e B no país ー a maior parte delas por causa do crescimento dos pólos e do consumo no interior paulista ou em outras regiões internas do país, como as áreas do agronegócio e da exploração de minérios e petróleo.