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Museu do Instituto de Biociências utiliza peças preparadas especialmente a pessoas cegas

Como é possível muitos terem o privilégio da visão e, às vezes, não serem capazes de enxergar as coisas simples da vida? É o que Andrea Gomes Mathias Silva tem aprendido com o filho Mário, de 19 anos, cego desde criança por problemas congênitos. 

“Com o tempo pude aprender com ele que cada um tem uma deficiência. Eu, por exemplo, sou deficiente em matemática. Já o Mário já tem uma sutileza e uma capacidade de sentir o simples. Como poder deitar na grama e sentir o cheiro dela”, compara.

A sensibilidade de Mário é a mesma de outros adolescentes com a mesma deficiência, que visitam, sempre que possível, o Museu de Anatomia do Instituto de Biociências da Unesp. Mas se eles não conseguem enxergar as peças do acervo, como podem aprender? Simples: sentindo.

Há cerca de 11 anos a Profa. Selma Maria Michelin Matheus recebia mais um grupo de estudantes no Museu. Até que foi indagada por uma jovem: “Mas qual é o tamanho e o formato de um espermatozóide?”. E aí, como explicar ?

“Boa parte da informação que recebemos é visual. Então não estávamos preparados. Fiquei sem saber como lidar com aquela situação. A partir dali tivemos que preparar materiais exclusivos pensando neste público. Aos poucos fomos adaptando”, explica a docente.

Assim, a professora Selma com ajuda dos alunos bolsistas e do Prof. José de Anchieta iniciaram o projeto visando elaborar modelos anatômicos direcionados para esse público e colaborar com aprendizado destes alunos. 

Os modelos são confeccionados a partir de materiais como isopor, silicone, bucha, papéis especiais em alto relevo. Sempre em tamanho proporcional, diferentes texturas e cores contrastantes para aqueles com baixa visão.

“A gente coloca a mão na massa, como um artesão. Preparar materiais para que as pessoas possam aprender conteúdos, que às vezes são pouco palpáveis, é um desafio. Mas também um ganho excepcional porque o Museu tem essa característica de ser inclusivo”, enfatiza Anchieta, também do Departamento de Anatomia do IBB.

Márcia Daroz há 25 anos leciona para alunos cegos na rede pública e conhece muito bem os desafios de compartilhar conteúdo didático a pessoas com deficiência. Enfatiza que o avanço tecnológico e iniciativas como as do Museu de Anatomia ajudam muito neste processo. Mas que é preciso, acima de tudo, acreditar no potencial destas pessoas.

“No passado, muitas pessoas com deficiência mal saiam de casa. Eram criadas isoladas do mundo, tornando-se dependentes dos pais. E hoje, cada vez mais, elas estão chegando mais cedo nas escolas. O que é o ideal. Tornar o processo de ensino o mais natural possível, pois eles têm muita vontade e capacidade de aprender”, afirma.

É o caso de Guilherme Faconti, de 19 anos. Ele já visitou quatro vezes o Museu de Anatomia do IBB. Apesar de sonhar em fazer uma faculdade de música, adora aprender coisas novas sobre o corpo humano. E quando questionado sobre como é o mundo de quem não tem o privilégio de ver, ele responde: “É um mundo divertido de outra maneira”. Simples assim.

Mais informações

Grupos interessados em fazer visitas monitoradas pelo Museu de Anatomia do IBB podem solicitar agendamento pelo e-mail: [email protected]. Informações também dentro do site do IB [www.ibb.unesp.br]. Basta acessar a seção “Departamentos” e, na sequência, “Anatomia“.

(com assessoria).
Redação 14 News

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