Morreu nesta sexta-feira (9/8), em Botucatu, o piloto Justiniano Thiegui Filho, aos 91 anos, que deixou a sua marca na aviação.
Ele era também professor e piloto de testes atuando principalmente pela Neiva. O seu trabalho se concentrou por boa parte do tempo em Botucatu. Foram mais de 70 anos de atividades. Veja a nota de falecimento.
Ele foi homenageado na Câmara Municipal com título de Cidadão Botucatuense, neste ano.
Na sua história relatada, o Legislativo divulgou na época da entrega dessa honraria, que “enquanto muitos garotos sonham em ser jogadores de futebol, bombeiros ou médicos, por exemplo, ele sempre sonhou em voar. Mas não como um pássaro ou na poltrona de passageiro de uma aeronave. Ele queria ser piloto de avião. Estamos falando de Justiniano Tieghi Filho, 91 anos de idade, dos quais 70
dedicados à aviação. Seja como piloto de testes ou instrutor de voo, ele sempre foi um apaixonado pelos ares. E, agora, em 2024,Tieghi será oficialmente considerado um “filho” da Cidade dos Bons Ares,
recebendo o Título de Cidadão Botucatuense, concedido pela Câmara Municipal de Botucatu”.
“Apesar de ter sido registrado em Itatinga, Tieghi nasceu em Pardinho no ano de 1933. Ele passou toda a infância na Fazenda Boa Vista (atual localização do Posto Rodoserv), onde ele e a família sobreviviam da cultura do café. É o caçula de 12 irmãos. E ainda na infância Tieghi descobriu qual seria a profissão que o acompanharia por toda a vida. Ele conta que, por viver na zona rural quando era um menino, quase não tinha contato com as pessoas que moravam na cidade, não acessava meios de comunicação e passou os primeiros anos de vida “isolado da civilização”. Tieghi atuava como fiscal da fazenda e tinha a função de acompanhar os colonos durante suas obrigações na lavoura”.
“Mas essas condições não o impediram de olhar para o céu toda vez que passava algum avião pela região. O garoto Tieghi olhava para cima, apontava para o avião e já dizia: “um dia eu ainda vou ser piloto de um desses”. Ele nunca havia entrado e nem ao menos chegado perto de uma aeronave. Mas parecia já sentir o que o destino lhe reservava”.
“Após o falecimento de seu pai, em 1949, sua família decidiu vender a fazenda em Pardinho. Era início da década de 1950, quando eles se transferiram para Botucatu. Era a mudança que Tieghi precisava para dar mais um importante passo na direção da realização do seu sonho de se tornar piloto de avião”.
“Vizinho da casa de uma prima de Tieghi morava um homem chamado Carlos Rodrigues. Ele estava tirando seu brevê (documento que dá permissão para pilotar avião) no Aeroclube de Botucatu. Ele seria o elo que faltava para o jovem de 19 anos ingressar na tão aguardada carreira na aviação. Após ter sido apresentado ao Seu Carlos pela prima, Tieghi descobriu que todos os finais de semana um veículo saia com destino ao “campo de aviação” de Botucatu. Sem pensar duas vezes, aceitou o convite para acompanhar o novo colega até a cidade vizinha e conhecer o aeroclube onde teria suas primeiras aulas como aprendiz de piloto”.
“Em 1961, já de volta a Botucatu para ficar mais próximo da família, ingressou na Indústria Aeronáutica Neiva, como piloto de testes. A empresa trabalhava na fabricação do modelo Neiva P-56, conhecido como “Paulistinha”, no qual acumulou 4 mil horas de voo. Já tinha produzido 100 unidades e depois chegaria a 250 aeronaves. Paralelamente, Tieghi se reaproximou do Aeroclube de Botucatu, quando foi convidado para ser instrutor. Uma missão que aceitou sem cobrar um centavo sequer, apenas pelo
prazer de formar novos pilotos. Mas tinha uma condição: não queria fazer parte da Diretoria do aeroclube”.
“Já na década de 1970, Tieghi foi convidado pela Diretoria da Neiva para morar por um tempo em São José dos Campos, onde era fabricado o avião T-25, conhecido como “Universal”. Sua atribuição seria fazer os voos de teste na aeronave, usada pela academia da Força Aérea Brasileira (FAB) para treinamentos. Parte dela era produzida na unidade da Neiva em Botucatu e parte em São José dos Campos. Segundo
Tieghi, um avião muito eficiente para a execução de acrobacias. Foram cerca de 25.000 horas de voo”.
“Tieghi lembra que teve até uma vez que o então comandante da Esquadrilha da Fumaça, o Vilarinho (hoje coronel, na reserva) viu uma apresentação de acrobacias que ele fez em São José dos Campos e, quando desceu, ele o indagou dizendo que o avião dele, o mesmo T-25, não fazia aquelas manobras bruscas que ele fez. Tieghi conta que respondeu que a aeronave não tinha nada de diferente. Ele conta que Vilarinho não acreditou, quis olhar o motor do avião. Estava surpreso com as manobras dele. Tieghi conta que seu segredo era que voava sempre com pouco combustível, pois sua exibição era de apenas 10 ou 15 minutos. Já a Esquadrilha da Fumaça voava com dois tanques cheios! “Esse era o meu macete”, relembra Tieghi.
Tieghi ainda teve a experiência de voar junto com a famosa Esquadrilha da Fumaça em certa ocasião, suprindo a falta de um piloto que atuava na posição chamada “isolada”, que faz acrobacias sozinho, enquanto os demais se afastam do local da apresentação para retomar altitude.
O papel do piloto de testes é detectar possíveis falhas na aeronave depois que ela sai da linha de produção. “Checamos todos os componentes, não apenas em relação a estabilidade, mas também os parâmetros de motor. Constatamos as discrepâncias existentes e emitimos um relatório que é encaminhado aos mecânicos para as devidas correções. Podemos fazer dois, três ou mais voos até que tudo seja vistoriado”, explica Tieghi.
O já experiente piloto seguiu nesta rotina durante quatro décadas, exercendo as funções de piloto de provas, de ensaio em voo, acrobático e demonstrador aéreo. Viu a Neiva se transformar em Embraer, de onde se desligou em 1998. Durante esse tempo, Tieghi teve uma Oficina de Recuperação e manutenção de aeronaves no Aeroclube de Botucatu. Publicou 5 edições do Manual da Aviação Civil, com sua primeira edição em 1958, sendo a única referência bibliográfica nesta área por alguns anos.
Viúvo de Adalgisa Barbosa Bissacot Tieghi e casado com Ana Aparecida Benfica Tieghi, ainda hoje, aos 91 anos, dirige a Escola da Aviação – PROAV, que funciona desde 2017, sob o comando do seu filho caçula, Rafael Tieghi.
Tieghi pilotou, ao longo de sua carreira, mais de 30 modelos diferentes de avião. Sendo eles: Aeronca, Belanca, BT15, Bucker, C120, C140, C170, C172, C182, C310, C402, CAP4, Carajá, Carioca, Cherokee, Corisco, Ipanema, J3, Luscombe 8, Minuano, Navajo, Niss, Regente, P-56 (Paulistinha), PA11 ,PA12, PA14, PA18, Pawnee, Seneca II, Senaca III, Sertanejo, Stinson Voyage, Stinson Relian, T-25, Travel Air, Tupi.
Levou essa paixão, do céu para dentro de sua casa. Três entre seus 6 filhos também são pilotos. E não parou por aí. Uma neta entre seus dez netos já trabalhou como comissária de bordo e, quem sabe, um dentre os quatro bisnetos ainda venham a seguir essa carreira no futuro.
Ao deixar uma mensagem para os futuros pilotos, Tieghi destaca: “Ser piloto é uma profissão bastante peculiar. Primeiro, a pessoa precisa gostar. Depois, precisa estar saudável para ter uma carreira tranquila. Mas, acima de tudo, toda pessoa que quer ser feliz, precisa fazer aquilo que gosta, mesmo se ganhar menos para isso. Mas ele ganha de trabalhar, todos os dias, com satisfação. Não gostar daquilo que faz,
torna a pessoa um mau profissional. E ser piloto é muito empolgante. Vale a pena!”, conclui.
A família de Justiniano Tieghi Filho tem um imenso orgulho de sua trajetória e são eles:
Filhos:
Marly Tieghi de Mello
Carlos Bissacot Tieghi (Call) Ele faleceu em 1995, num acidente de avião)
Ana Maria Bissacot Tieghi Ruediger
Orlando Bissacot Tieghi (comandante da Latan)
Renata Benfica Tieghi
Rafael Benfica Tieghi (Responsável pela Escola da Aviação)
Netos
Patricia Prudente Tieghi Pereira
Marcelo Prudente Tieghi
Cintia Prudente Tieghi
Guilherme Tieghi Ruediger
Arnaldo Leotta de Mello Neto
Luciana Tieghi Ruediger
Letícia Tieghi de Mello
Beatriz Berteli Tieghi
Lucas Tieghi Panhozzi
Bruna Berteli Tieghi
Bisnetos
Loahn Dileo
Isabela Pereira Tieghi
Carlos Tieghi
Benjamin Dileo