Organizado em plataforma virtual por extensionistas da Secretaria de Agricultura e Abastecimento que atuam na Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) – Regional Guaratinguetá e na Casa da Agricultura de Cunha, o evento, realizado entre 17 e 21 de agosto, reuniu profissionais de renome na atividade.
Em agosto do ano passado, a Pasta abriu espaço no noticiário para destacar o reconhecimento que a produção de queijos artesanais em solo paulista vem ganhando no cenário mundial. Durante o 1º Festival Mundial de Queijos do Brasil, realizado entre 9 e 11 de agosto de 2019, em Araxá (MG), concurso que teve 953 queijos nacionais e estrangeiros inscritos, seis produtores paulistas, quatro mineiros, três franceses, um australiano e outro italiano concorreram ao prêmio máximo na categoria Super-ouro.
O campeão foi o queijo Mandala, da Pardinho Artesanal, da fazenda localizada no município de Pardinho, na região de Botucatu, no interior de São Paulo. Em segundo lugar ficou um queijo australiano, e o terceiro lugar foi um empate entre um queijo francês, e o Mimo da Serra, do Christophe e Zeide Queijos Artesanais, situada na Serra do Mar Paulista. O quinto lugar foi da também paulista Fazenda Santa Luzia, de Itapetininga. Ou seja, os três primeiros lugares são brasileiros e paulistas.
Por coincidência, um ano depois, no mês de agosto, em sequência aos projetos e ações que a Secretaria de Agricultura e Abastecimento realiza há décadas para o desenvolvimento sustentável da bovinocultura de leite − cadeia produtiva de grande relevância econômica no Estado −, e o incentivo à produção de derivados do leite, o Ciclo de Palestras: Tecnologia de Queijos registrou sucesso em público e participação.
Produção
Organizado pela Casa da Agricultura de Cunha, ligada à área de atuação da CDRS Regional Guaratinguetá, o evento demonstrou a importância do segmento de queijos artesanais e a busca constante dos produtores e interessados em iniciar na atividade, por conhecimento para uma produção com valor agregado, que reflita em renda e emprego, bem como na consolidação de São Paulo como polo de produção de queijos de qualidade.
Com informações relevantes para produtores, pecuaristas e laticínios, o evento alcançou o número expressivo de 542 participantes inscritos por dia de curso, que puderam fazer perguntas e solucionar dúvidas diretamente com os palestrantes.
“As expectativas que tínhamos em relação ao Ciclo de Palestras se extrapolaram, visto que, em face de seu caráter online, tivemos a oportunidade de reunir, em um mesmo evento, profissionais reconhecidos, o que, acredito, despertou o interesse de tantos participantes, inclusive de outros estados”, explicou César Afonso Gonçalves Frizo, engenheiro agrônomo responsável pela Casa da Agricultura de Cunha e um dos organizadores do evento, que contou com a parceria do Sindicato da Agricultura Familiar do município.
Rosangela Zimmer, extensionista da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) do Rio Grande Sul e coordenadora do Centro de Treinamento de Laticínios de Caxias do Sul, foi uma das participantes que aprovou a programação. “Os temas foram bem escolhidos e abordados de forma clara, possibilitando a difusão de conhecimento tanto para quem já fabrica quanto para quem está iniciando na atividade”, avaliou a extensionista, elogiando a equipe organizadora e informando que está recomendando aos produtores da região que assistam às palestras.
Qualidade
Para Christophe Faraud, presidente da Associação Paulista do Queijo Artesanal (APQA), eventos como esse são muito importantes para que o conhecimento seja difundido e a qualidade do queijo artesanal aprimorada.
“O conhecimento e a capacitação são fundamentais para que o produto tenha qualidade para o consumidor e gere renda para o produtor. No Brasil existem muitos cursos mas, em grande parte, por conta do preço elevado, não são acessíveis a todos os produtores, principalmente aos pequenos. Então esse papel da extensão rural de levar conhecimento é muito importante”, diz Christophe, que é produtor de queijos artesanais em Natividade da Serra, município próximo de Cunha, elogiando o trabalho que tem sido realizado pela Casa da Agricultura e parceiros na organização dos produtores e no aprimoramento da qualidade do leite e do queijo produzido localmente, observando que este deve ser estendido no Vale do Paraíba.
“Muito se fala no aumento do consumo de leite no Brasil, mas entendo que o consumo de leite fluído é grande, e, que um aumento ainda maior será possível pelo incentivo ao consumo de derivados, principalmente de queijo, demanda que a produção artesanal pode suprir, em razão do grande número de pequenos e médios produtores de leite”, acrescentou.
De acordo com o produtor, para que se possa ter um aumento no consumo de queijo, que no Brasil atualmente é de 5kg/por pessoa/ano, enquanto na França é de 25kg, é preciso investir em quatro pontos chaves: diversidade – pluralidade de tipos e sabores para o consumidor escolher; qualidade, como item fundamental; equalização de preços; e disponibilidade de produtos no mercado, pois não adianta ter produção para um dia de venda no mercado e não ter capacidade para suprir a demanda.
“Também é preciso que os integrantes da cadeia do leite, produtores e o poder público se atentem para uma conta simples que mostra que todos ganham com o aumento do consumo de queijos. Tal aumento pode ser resumido em ações que ampliem o consumo em 1kg por pessoa, em todo o País; com mais de 200 milhões de habitantes e a um preço hipotético de R$ 50,00 o quilo, poderiam ser geradas receitas de até 10 bilhões/ano”, explicou.
Christophe reitera, ainda, que o papel da Secretaria de Agricultura e Abastecimento é fundamental e vai além das capacitações, sendo importante uma ação coordenada. “O apoio da Secretaria é essencial, tanto na estruturação e organização da cadeia, como na regulamentação do processo artesanal, o que passa por uma mudança de mentalidade no que se refere à legislação e fiscalização da produção. É preciso que a qualidade dos produtos seja levada em consideração da mesma forma como ter as instalações corretas, entendendo que essa qualidade é fruto do conhecimento adquirido pelos produtores, independentemente de seu tamanho”, disse.
“Por isso, é necessário e urgente a atualização da legislação e fiscalização, de forma que não limitem a criatividade do produtor, seja ele pequeno ou médio, e permitam que ele se regularize e inove, principalmente em São Paulo que já está na frente no Brasil em quesitos de qualidade e diversidade de queijos artesanais”, enfatizou.
Programação
Com um portfólio abrangente de palestras técnicas, o evento também se consolidou como um espaço para troca de experiências e informações que foram desde a produção de leite até a comercialização de queijos.
Os temas abordados foram: Que mofo é esse? Fungos colonizadores de queijos, pelo professor Luis Roberto Batista, da Universidade Federal de Lavras; Queijo artesanal de leite cru – mitos e fatos, por Fernando Cesar Rodrigues, da Escola de Queijo; Fermentos Lácteos – usos e aplicações, por Marco Antônio Couto, da empresa Rica Nata; Principais defeitos nos queijos artesanais e suas causas, por Leonardo dos Santos, da empresa SACCO Brasil; O que é Análise de Pontos Críticos? Como Aplicar a laticínios?, por Tatiana Pelucio, médica veterinária e consultora em laticínios.
As palestras estão disponíveis no canal da CDRS no YouTube. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail: ca.cunha@cdrs.sp.gov.br.
Atividade leiteira
A bovinocultura leiteira é a atividade agropecuária mais importante em termos socioeconômicos dessa região inserida no Vale do Paraíba, ocupando extensa área territorial e importante contingente de trabalhadores, de tal modo que a região de Guaratinguetá se configura como a principal bacia leiteira do Estado de São Paulo.
Nesse cenário, o município de Cunha representa uma parcela muito grande dessa produção, se destacando por ser o único que possui um Sistema de Inspeção Municipal (SIM), instalado e ativo.
Por meio da CDRS Regional Guaratinguetá e da Casa de Agricultura de Cunha, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento vem desenvolvendo há cerca de dois anos trabalhos de apoio aos produtores em melhoria dos processos produtivos, Boas Práticas de Fabricação, auxílio à regularização e organização social, bem como apoio no fortalecimento e expansão dos Serviços de Inspeção Municipal, com capacitações, cursos, difusão de conhecimento e materiais editoriais.
A parceria com entidades ligadas ao segmento como sindicatos rurais; associações de produtores; laticínios, como o Campos Novos, com sede em Cunha; e cooperativas como a Cooperativa de Laticínios do Médio Vale do Paraíba (Comevap), e o poder público municipal têm feito com que as ações e os projetos desenvolvidos pela Pasta impactem na vida de centenas de produtores, movimentado as economias locais e regionais, bem como toda a cadeia produtiva da bovinocultura de leite.