A dissertação sobre algum pressuposto depende de argumentos, de fundamentações técnicas e conceituais que sustentem e deem forma à intenção escrita. No campo da História não é diferente, pelo contrário, é uma temática amplamente debatida e que, muitas vezes, não saí do meio acadêmico acabando por criar um distanciamento ainda maior entre o leitor e o objetivo do texto. Entender como se escreve a história é ficar em sintonia com o alcance da ciência.
Em seu primórdios científicos, a construção de um texto histórico, defendida por pensadores como Ranke, deveria partir da análise de documentação oficial e ter caráter político e buscar, com isenção e discernimento, a visão “correta” do objeto escolhido. Além de anexar ao trabalho do historiador a isenção de opinião, o material de pesquisa restrito acaba por influenciar os resultados em proporcional tamanho, trazendo um texto, muitas vezes, narrativo dos grandes acontecimentos. Olhar para qualquer evento, país, população ou grupo e esperar que o entendimento de suas atividades seja obtido unicamente pelo que foi produzido por governadores e burocracia, é virar as costas para o que foi vivido e vivenciado pela maior parte da sociedade.
Se o modelo “antigo” demonstra o engessamento da pesquisa, os moldes atuais reconhecem uma gama maior de objetos. A “História Nova” – nomenclatura associada as produções dos Annales – busca um debate social em profundidade de objetos e abordagens, rompendo diretamente com a confecção de uma história “vista de cima”, ou seja, a narração dos grandes eventos, reis, heróis e afins. Tal abertura permite contato com material diferenciado para a pesquisa – músicas, literatura, vestimentas, memória – da mesma forma que amplia o entendimento de alcance da própria ciência – história da sexualidade, das mentalidades, oral, dentre outras.
Tamanho contraponto, da restrição versus diversidade, expõe um inimigo constante das ciências sociais: a relativização que muitas vezes é associada ao “achismo” de textos e opiniões. Como defendido por Hobsbawm, o papel da pesquisa deve buscar uma espécie de justiça, uma explanação sobre as forças e vieses – políticos, culturais, econômicos – que influenciaram os personagens em questão. A abrangência de documentação, objetos e abordagens, reflexo da complexidade social, não pode servir como desculpa para eximir o escritor da sua própria intenção.
Sendo assim, o debate sobre o jeito certo ou errado de se fazer história demonstra que o questionamento crítico da situação – e sobre si própria – é uma atitude essencial da ciência, aonde sua pesquisa não é congelada em moldes obrigatórios o que expõe diversas possibilidades e intenções sobre o texto. Além disso, é necessário o reconhecimento da postura gramatical indicativa do texto de história, muito diferente de uma aproximação subjuntiva, incerta, defendida por argumentos que desconhecem a história da própria História. Afinal de contas, tudo tem uma história.
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