“A melhor forma de tratamento é a prevenção”. A frase é do cirurgião pediátrico e professor do Departamento de Cirurgia e Ortopedia da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/Unesp), Dr. Pedro Luiz T. A. Lourenção. O docente se refere a um grave problema de saúde pública: os acidentes cáusticos na infância.
Dados epidemiológicos sobre ingestão de cáusticos por crianças apontam que os acidentes com substâncias cáusticas representam importante causa de morbidade e mortalidade na infância em todo o mundo, especialmente em países em desenvolvimento. Professor Pedro explica que o problema ocorre “principalmente com crianças que ingerem de forma acidental substâncias que estão disponíveis dentro de suas casas, geralmente em produtos de limpeza e que são constituídos por álcalis fortes (como a soda cáustica) ou ácidos altamente concentrados. A ingestão destas substâncias leva a dificuldades graves para deglutição e alimentação por via oral, influenciando sobremaneira a qualidade de vida”.
Pensando em formas de auxiliar na prevenção dos acidentes, médicos da FMB e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB) produziram um vídeo com relevantes informações preventivas sobre o problema.
“Elaboramos um vídeo, em formato “draw my life”, contando a história de um personagem fictício, vítima da ingestão de substâncias cáusticas na infância, relatando as conseqüências deste tipo de acidente e orientando as principais atitudes de prevenção que poderiam ter evitado este tipo de acidente. O vídeo foi construído a partir de uma parceria com uma agência de comunicação e teve financiamento da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). O vídeo está disponível gratuitamente na Internet (https://www.youtube.com/watch?v=GLRQkkBvxOI)”, salienta o docente. Participaram da elaboração do vídeo a Profa. Dra. Erika Veruska Paiva Ortolan e as alunas de graduação em medicina Karina Veronezi de Paiva e de enfermagem Anna Érica Mero Cavalcanti da Silva.
Atendimentos no HCFMB
No HCFMB a equipe médica tem observado um número crescente desse tipo de acidente em crianças. A maior parte dos casos ocorre dentro da própria residência pela ingestão destas substâncias (mais comumente soda cáustica) que estão alocadas em locais de fácil acesso pelas crianças e em embalagens inadequadas (geralmente garrafas de refrigerantes reutilizadas). A soda cáustica ainda é bastante utilizada pela população para fabricação de sabão caseiro e outros produtos de limpeza e é responsável por mais de um terço das estenoses esofágicas por ingestão de cáusticos.
Muitas das crianças vítimas da ingestão de cáusticos necessitam de vários procedimentos cirúrgicos para o tratamento da principal complicação, que é a estenose de esôfago. Os resultados alcançados com os tratamentos atualmente disponíveis não são satisfatórios, levando em conta o prejuízo considerável na qualidade de vida destas crianças.
“Estes foram os principais pontos que nos motivaram a tomar a iniciativa de desenvolver um projeto de extensão universitária, buscando ampla divulgação de atitudes simples, que possam ser realizadas no dia a dia, e que tem a capacidade de evitar este grave tipo de acidente. Pensando em não limitar esta atividade apenas ao público local, nós decidimos investir na criação do vídeo explicativo, disponibilizado gratuitamente pela internet e que apresenta os principais aspectos para prevenção da ingestão de substâncias cáusticas por crianças”, conclui o médico.
A Unesp de Botucatu atende em média uma criança a cada 3 ou 4 meses por ano de acidentes com soda cáustica.
(com assessoria)