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A vida após a UTI – Onde há vidas, há milagres

UTI. Três letras que assustam, mas que salvam vidas. Todo ser humano que passa por uma UTI tem um prontuário com sintomas ou doenças anteriores. Mas também tem uma família, sonhos, e principalmente uma história.

A nutricionista Valéria da Cruz Chiarinelli, 49, sempre pensava que deveria desacelerar, mas não tinha tempo para colocar isso em prática. “Eu queria viver o aqui e o agora. Mas não conseguia ler um livro, assistir uma série ou dar atenção às minhas filhas. Eu tinha que dar conta de tudo”, conta.

Há cerca de um ano, acordou em uma madrugada com a sensação de estar sofrendo um AVC. Foi levada pelo SAMU ao Pronto Socorro Adulto (PSA) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB), onde desmaiou.  Enquanto era socorrida, só pensava nas filhas. “Eu saí achando que voltaria logo. Mas não voltei”, diz Valéria.

Foi internada às pressas no Serviço Especializado de Terapia Intensiva (SETI) do HCFMB e ficou em coma. A intensivista da unidade Dra. Ana Cláudia Kochi, explica que foi formada uma junta médica, composta pelas equipes da Neurologia, Reumatologia, Infectologia e UTI Central do HCFMB para discutir o caso de Valéria, considerado gravíssimo pela equipe.

“Pensamos em muitas possibilidades. Após vários exames, concluímos que Valéria era portadora de uma patologia na esfera das encefalites autoimunes, que envolve o sistema imunológico sobre o cérebro, provocando vários distúrbios”, explica Kochi.

Valéria conta que sua família recebeu muitas notícias desanimadoras no período em que ficou internada. “Os médicos utilizavam os melhores recursos, mas eu não acordava. Eu tenho pais vivos, eu tenho quatro filhas. Como eu poderia morrer?”, pensou.

Segundo a supervisora técnica de enfermagem do SETI do HCFMB Guiomar Ribas, toda equipe multiprofissional que atua no SETI é responsável pelo processo de cura do paciente internado. “A família entrega em nossas mãos a vida de um ente querido. Nossa missão é nos colocar no lugar desse paciente e dar o nosso melhor, para que seu tratamento seja eficaz”, explica.

E após um intenso trabalho em equipe da UTI Central do HCFMB, muitas orações e uma incansável luta pela vida, Valéria acordou do coma que durou 20 dias, após o início de uma terapia intensiva adotada pelos médicos. “Reunir conhecimentos através de uma junta médica multidisciplinar para discutir especificamente esse caso foi vital para fornecer uma proposta terapêutica eficiente. Além disso, a disponibilidade do tratamento no nosso HC foi fundamental para que pudéssemos salvar sua vida”, afirma Kochi.

O médico responsável pelo SETI do HCFMB, Dr. Ubirajara Aparecido Teixeira, mais conhecido como Bira, comenta o caso. “Quando entramos na UTI, os problemas dos pacientes passam a ser nossos. E nós nunca desanimamos. Algumas vezes, percebemos que somos limitados, mesmo usando tecnologia de ponta, e pedimos ajuda. Minha esperança se renova a partir do momento em que chego aqui, e posso ouvir histórias como essa”, diz.

O início da recuperação

A nutricionista se lembra de poucos momentos na UTI durante o seu tratamento, que durou 60 dias, contando com os dias em coma. “Lembro apenas dos últimos dias. Não mexia nenhum membro do corpo; braços, pernas, nada. Meu único meio de comunicação eram os olhos. Eu ouvia tudo, e respondia apenas sim ou não com os olhos”, conta.

Um dia, seu pai foi visitá-la e perguntou, emocionado, se ela achava que as coisas dariam certo. “Com os olhos, respondi que sim. Eu nunca achei que ia morrer”, conta.

Valéria também é irmã do músico Tato, da banda FalaMansa. “Ele foi a UTI e cantou para mim a música “O sol de Hiroshima”. E a cada vez que ele entoava o refrão, que diz “eu não desisto fácil”, eu encontrava forças para viver e reencontrar minha família”, lembra.

Dra. Ana Cláudia destaca que há sim, diariamente no SETI do HCFMB, casos difíceis em que o paciente sobrevive. “A vida sempre nos surpreende. E onde há vida, há milagres. E onde há milagres, há a presença de Deus. Acredito que Deus use a 'nossa' UTI para materializar seus milagres, e a medicina nos trouxe aqui para presenciar tudo isso”, completa.

Viver o agora

Valéria teve alta após dois meses de internação. Hoje, um ano após a doença, recuperou a fala e reaprendeu todos os movimentos. “Sou grata por fazer coisas simples, como poder ir ao supermercado”, relata.

“As coisas passaram a ter mais valor. O futuro está completamente diferente. Viver o agora é o olhar no olho, tomar um café, conseguir reunir minhas amigas uma vez por semana. Antes eu fazia planos.  Quando foquei na minha recuperação, foi a primeira vez que olhei para mim”, conta.

A paciente retoma suas atividades aos poucos. Mês passado, voltou a participar do quarteto vocal feminino Dedo de Moça, onde é uma das vocalistas, junto com mais três amigas.  Valéria também está engajada na educação de suas quatro filhas. “São meninas fortes e que superaram bem os momentos difíceis que viveram enquanto eu estava internada. A parte mais difícil de tudo isso foi ficar sem elas”.

“Eu não queria parar, mas a vida me parou. Sou extremamente grata por tudo o que a equipe do HCFMB fez por mim, pela minha vida e pela minha família. Também acredito que Deus tenha um plano pra mim, por ter me salvado. Tenho muita coisa pra fazer, tenho urgência de viver. Sim, eu sou um milagre”, finaliza.

Serviço de Terapia Intensiva (SETI) do HCFMB

Atualmente, o SETI do HCFMB possui um total de 25 leitos, sendo 16 na Ala II, conhecida também como UTI Central, e 9 leitos na Ala I, conhecida como UTI do Pronto Socorro Referenciado (PSR).

São mais de 70 servidores de equipes multiprofissionais trabalhando 24hs por dia na SETI do HCFMB. “A UTI de hoje busca pela excelência, e prioriza o trabalho em equipe. Os médicos, a equipe de enfermagem, familiares e paciente são totalmente envolvidos no tratamento, com cuidado amplo, focado na humanização”, explica a intensivista Dra. Ana Cláudia Kochi.

“Nosso objetivo é sempre realizar melhor cuidado para o paciente. A enfermagem tem o dever de cuidar de um paciente, e isso é um privilégio: uma vida confiada a você”, diz a supervisora técnica Guiomar Ribas.

Segundo Dr. Bira, o SETI do HCFMB é referência regional em atendimento de alta complexidade. “Atendemos os casos mais graves de 68 municípios de nossa região, que abrangem cerca de dois milhões de pessoas. Cerca de cinco mil pessoas já passaram pela nossa UTI. E tenho certeza que nossa equipe busca sempre fazer o melhor por todas elas”, diz.

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(com assessoria)

Redação 14 News

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