O padre João José Bezerra da Arquidiocese de Botucatu foi vice-campeão do mundial de Jiu-jitsu da CBJJE. A competição aconteceu no dia 24/11 no Ginásio do Ibiraquera em São Paulo.
O Padre João ficou vice-campeão mundial na faixa marrom master 3 (até 88 kg) fazendo 3 lutas no total. “Como reconhecimento pela seu vice mundial resolvi graduá-lo na faixa preta. É o primeiro Padre faixa preta”, comentou Will Trovão ao 14News.
O padre João José Bezerra, que está na Arquidiocese de Botucatu há 14 anos, conversou com o 14News após a sua conquista. “Fui ordenando no ano de 2008 na cidade de Botucatu mesmo. Atualmente trabalho como padre na cidade de Cerqueira César-SP. Meu interesse pelo jiu-jitsu esportivo começou no meio do ano de 2016 quando retornei para o Brasil, após ter terminado meu mestrado em Teologia Dogmática em Roma. Sempre tive afinidade com a prática de esporte e a academia. Para mim sempre foi uma preocupação a saúde e ter um estilo de vida mais saudável. Mesmo morando em Roma, durante dois anos, sempre fiz corridas ao longo do Tevere, famoso rio que corta a cidade de Roma. Logo após ter retornado de Roma em meados de 2016, tinha como propósito voltar à academia e abraçar algum esporte para a prática semanal. Um certo dia tive meu primeiro contato com a academia do Sensei Will Trovão da equipe Ryan Gracie de Botucatu, através de um folder ilustrativo, e fui lá no Jardim Ouro Verde, onde ficava a sede. Na época procurava saber como podia começar. Iniciei o box e depois de algumas semanas não me adaptei, e um dia, ao sair da academia, já pensando em desistir do box, passei e vi os colegas treinando jiu-jitsu com o Sensei Will Trovão. Parei para olhar o treino por um minuto e ao final me dirigi até o Sensei Will Trovão. Perguntei se podia praticar jiu-jitsu também. O professor Will Trovão, com seu estilo único e extremamente acolhedor, me convidou ir fazer algumas aulas. Eu sai de lá pensando: caramba, será que vai dá certo isso? Não sei não. Mas, eu nunca imaginava que essa seria uma das maiores experiências da minha vida, que aos poucos, foi se tornando um estilo de vida para mim.
DIFICULDADES E SUPERAÇÕES
“Achei que era fácil, mas os desafios começaram a aparecer. Como todos os professores de jiu-jitsu falam: que a parte mais difícil são os primeiros meses e o primeiro ano de jiu-jitsu. Mas não me intimidei com as dificuldades que não foram poucas. Além do desafio de evoluir com os colegas de treinos, tinha o de evoluir no dia-a-dia, levando tudo que aprendia nas aulas. O jiu-jitsu é a arte suave de fazer amigos, respeitar o outro e ajuda-lo a evoluir também. Me ensinou que, seja qual for o obstáculo ou a fraqueza, é possível evolui e ficar em pé sempre. Por isso, vejo o jiu-jitsu e meus colegas de treino, cada um deles, que não dá pra falar o nome de todos, mas eles sabem que estou falando sério: são presentes de Deus para mim. Não tenho dúvida que Deus me mandou praticar jiu-jitsu por algum propósito muito particular.
UM PADRE ENTRE OS ATLETAS
“Só descobriram que sou padre três meses depois, após o professor me perguntar e eu responder que sim. Justifiquei que meu objetivo ali era treinar igual a todos e como qualquer outro colega, sem mérito algum, e isso aconteceu de fato porque no meio do jiu-jitsu somos todos iguais, todos irmãos, e evoluímos juntos, um ajudando o outro sempre. Para mim o tatame é a minha segunda casa, onde encontro os amigos para treinar e minha segunda cama, onde descanso o corpo e a mente treinando. Apesar de apanhar muito, mas também evoluir muito. Sempre me dediquei muito nas aulas e tenho profunda admiração e respeito pelo meu Sensei Will Trovão e outros faixas pretas que me iniciaram na arte suave. Para mim, o Sensei Will Trovão é um exemplo e uma pessoa que admiro muito, bem como sua dedicação com os alunos na academia, e seu estilo Old Jiu-jitsu. Sempre nos ensinou o jiu-jitsu clássico, o básico que funciona, e isso tenho vivido nos campeonatos que tenho a oportunidade de participar, o que sempre é um prazer.
ENTRE O JIU-JITSU E A IGREJA
“Divido meu tempo com minha função religiosa e os treinos semanais. Dentro do meu universo religioso sempre fui visto com muita admiração e respeito e até incentivado em praticar a arte suave, o que os agradeço muito. Vejo hoje meus colegas padres também, cada um a seu modo, redescobrindo a importância de um estilo de vida saudável. Isso me dá um alegria enorme e quando posso sempre dou dicas e incentivo a todos. Depois de algum tempo ouvi que era possível competir, o que fiquei interessado, mas tinha medo de ir e fazer feio, e sempre ouvi o meu Sensei dizer: dê o seu melhor, o importante é competir, só o fato de estar lá, você já é vitorioso, porque deu a cara a bater, enfrentou. Isso foi uma injeção de ânimo. Fui lá no meu primeiro campeonato em Bauru no ano de 2017 e lá fui finalizado amargamente (risos), mas me levantei e pensei: agora desisto ou volto a treinar. Não desisti e voltei a treinar duro. Sempre quando tinha oportunidade de competir eu ia lá e pouco a pouco fui percebendo uma evolução. Já não era finalizado muito rápido; e já estava começando a dar trabalho para os oponentes. Pouco a pouco fui crescendo e entendendo a lógica do jiu-jitsu: seja na academia ou nos campeonatos: não é só ganhar, é evoluí a todo momento com o outro. Aprendi que quando a gente evolui num certo ponto da vida, a vitória já é certa.
NOVOS CAMPEONATOS
Depois vieram as competições mais duras no Campeonato Paulista em São Paulo que me deram uma experiência enorme e depois de 7 anos praticando jiu-jitsu, neste ano me sagrei Campeão Brasileiro de Jiu-jitsu e agora dia 24 competindo o Mundial de Jiu-jitsu em São Paulo peguei o segundo lugar no pódio, depois de várias lutas. Mesmo após de 7 anos de prática, imaginei que iria conseguir a faixa preta, daqui 2 anos. Mas, o meu Sensei veio em minha direção com a faixa preta de jiu-jitsu, o que me gerou uma grande emoção e gratidão ao meu Sensei Will Trovão e a todos a academia Ryan Gracie Team de Botucatu. Sem palavras para todos os meus colegas que me ajudaram a chegar até aqui, povo casca grossa. O êxito no Mundial de Jiu-jitsu e no Brasileiro devo a cada um deles, sobretudo a cada um dos faixas pretas da nossa academia.
AGREGOU À VIDA
“O que eu poderia falar mais? Nossa, tenho tanta coisa pra falar e tantas experiências bonitas que aqui não cabe. O jiu-jitsu para mim, como já disse, é um estilo de vida diário e que moldou a minha vida toda. Mesmo durante o período que estava escrevendo meu doutorado pela PUC SP, período de grande exigência e correria, nunca deixei de treinar, sempre foi prioridade, assim como minha função de padre. O meu doutorado terminei no dia 20 de junho deste ano. Quando viajava sempre levava meu kimono no carro e lá onde eu estava – com a autorização do meu Sensei Will Trovão – treinava. E hoje com a galera da Equipe Miquinho de Jiu-jitsu de Cerqueira César do Sensei Márcio, que sempre me acolheu muito bem e orientou, me treina todos os dias. Devo minha gratidão também a eles. Mesmo cansado ou cheio de coisas pra fazer sempre treinei. Tem uma frase célebre em nossos meio: “Quem não treina, não gradua” e ponto final. Jiu-jitsu é coisa séria para quem quer levar a sério e atingir seus objetivos. Tenho certeza hoje mais do que nunca. Após terminar meu doutorado, enfrentar tantas dificuldades ao longo do processo, que quem treina jiu-jitsu sempre alcança seus objetivos.
ENSINAMENTOS
O jiu-jitsu nos ensina a ser sempre destemidos, confiantes e perseverantes, tanto na academia como no tatame da vida. Gostei de uma outra frase boa: não adianta chorar ou reclamar, se não bater, apaga… No tatame da vida é assim, não adianta chorar porque ou você luta duro, bate ou apaga, eu prefiro lutar sempre e o jiu-jitsu me ensinou isso: nunca desistir. Por mais dolorosa que seja a situação, seja ela qual for, que possamos enfrentar a vida. Vamo pra cima! Um grande OSS a todos!”.