Após viver a experiência de dar aula em uma escola e representar os Emirados Árabes, a atleta de jiu-jitsu, de Botucatu (SP), Jéssica Cristina dos Santos, de 26 anos, a Preta Jéh, agora está em terras americanas.
O local agora de atividade de trabalho é Seattle, uma cidade portuária e sede do Condado de King, no estado norte-americano de Washington, sendo a 23ª cidade mais populosa do país. Ela conversou com a reportagem do site Agência14News.
Faz um ano que ela está nos Estados Unidos. “Fui muito bem recebida aqui. Trabalho na academia Brasilian Jiu-Jitsu da professora Mirim Cardoso, também vinda do Brasil. Está sendo uma experiência muito legal porque todo mundo aqui é muito acolhedor. Eles tratam muito bem os professores e dão liberdade da gente trabalhar. Eu gosto muito. A gente sabe que para viver do esporte no Brasil é muito complicado. Aqui eles olham pela gente. A gente tem valor para eles. Quando eu estava no Brasil as pessoas me perguntavam com o que eu trabalhava. Eu respondia que era com esporte. E aí questionavam o que eu fazia para ganhar dinheiro. Eu dizia que esse era o meu trabalho. Muita gente não entende que você ensinar uma arte ou um esporte também é uma profissão. E financeiramente é outra coisa. Faço um bom dinheiro aqui e consigo ajudar a minha mãe. Consigo viver bem aqui. Sinto muita saudade da minha família, dos meus amigos, de ouvir um pouco mais de português, mas isso na visita que faço ao Brasil a gente mata (essa vontade). Já faz um ano que não vou ao Brasil. Saudades a gente sempre tem de uma fase ou uma época que a gente viveu. Impossível viver sem ela (saudade). Mas coma tecnologia ao mesmo tempo que a gente está longe, também está perto”, disse.
Nos Estados Unidos ela dá aulas durante a semana, exceto de terça e sábado, onde ensina e treina em alguns horários com as professoras para troca de experiências e se ajudam. A vida é corrida com academia cedinho para exercícios, depois café e academia praticamente o dia todo dando aulas na academia ou para particulares.
VIDA NOS ESTADOS
Atualmente ela mora com a amiga Miriam e com a família dela. “Fiz algumas amizades aqui. A maioria é de brasileiros, mas também alguns americanos. Meu namorado é americano. As pessoas e muitas coisas são diferentes do Brasil. A maioria é mais transparente, seja do jeito que age e como quer falar. Não existe jeitinho brasileiro. O que se fez de errado vai pagar. Se fizer certo todo mundo vai te reconhecer e ter bons olhos para vocês, mas isso não se tem no Brasil , que muita coisa errada vai pra debaixo do tapete. Aqui a lei funciona. Se fez errado as pessoas vão ficar sabendo. Aqui tenho lazer mas sou bem focada nos meus objetivos. Tenho hora de descontrair, mas na maioria do tempo foco no que preciso fazer. É fazer a oportunidade valer a pena. Dou ao luxo de sair e curtir, mas a maior parte do tempo fico focada no que tenho que fazer”, conta.
Ela tenta deixar em ordem toda a sua documentação para ficar totalmente regularizada.
NÃO CONSIDERO O BRASIL MAIS A MINHA CASA
Jéssica pensa em voltar ao Brasil para visitas e ver os amigos. “Não considero mais o Brasil a minha casa. Isso por coisas que eu aprendi fora e pelo o que eu vi como o cuidado que as pessoas têm com as outras. A segurança que eu sinto e o carinho das pessoas.. E Deus sempre foi muito bom me colocando ao lado de pessoas incríveis. Todas as pessoas que eu conheci quando fui morar fora do Brasil são excepcionais, realmente entraram na minha vida e disseram: Jéssica, você pode mais do que imagina. Por tudo isso acho que o Brasil não dá mais pra mim. Não porque o Brasil é pobre, mas sim pelo fato de eu não me sentir cuidada, de acharem que eu não ajudo meu País, que umas não respeitem as outras; que tenho que ficar me cuidando na hora que saio com meu celular que alguém pode querer me assaltar. Todo mundo sabe a situação que está o Brasil. Não é o futuro que quero dar para os meus filhos. Claro que quero mostrar para os meus filhos se eu os tiver no futuro, mostrar de onde eu vim, mas não é lugar onde eu gostaria que eles crescessem: no meio da violência e da droga e até pessoas corruptas. Isso eu não quero pra mim”, disse Jessica.
TER APOIO SEMPRE FOI DIFÍCIL
“Um dos fatores que dificulta o lutador não conseguir patrocínio é por não ser ainda um esporte olímpico. Mas é um dos mais praticados na atualidade. Esse é um dos fatos que mais impede do atleta conseguir patrocínio. Quando estive no Brasil tive momentos horrorosos, mas sou muito grata a cada não que recebi ou porta fechada na minha cara, eu e o meu professor Anderson Banana, e hoje em dia eu valorizo cada coisinha que me dão. Quando eu estava no Brasil não sentia que tinha oportunidade. Eu já cheguei a sentar na sala do prefeito e olhar no fundo dos olhos dele dizendo que tinha proposta para ir em competição fora do Brasil e tinha certeza que seria campeã e o prefeito olhou na minha cara dizendo que estava tudo certo que era só voltar no próximo dia. Eu saia de lá dando cambalhotas, mas quando chegava no outro dia eu nem era atendida. Que tipo de pessoas são essas que brincam com os sonhos da gente? São pessoas que não têm o mínimo respeito com o ser humano, que está ali pedindo uma ajuda. Nos olham como mendigos, mas na verdade eles precisam da gente mostrando que estão ajudando. Atleta é taxado como mendigo e quem não estuda. Eu tinha 3 patrocinadores que nunca falharam comigo que era a Volga que me davam os kimonos e tudo que eu pedia estava ali. A Speed Form sempre me ajudaram. Ia lá com o Rômulo e a Jessica que sempre estavam com o coração aberto. Foi in crível. Outro patrocinador me deu a bolsa de estudo até o terceiro ano de faculdade; a dona da entidade a Cecilia. Agradeço terem me dado essa oportunidade até o meu terceiro ano”.
MENSAGEM
“Nada é tão nosso quanto aos nossos sonhos. Ninguém capaz de realizar se não for a gente acreditar mais que qualquer outra coisa. Tem dia que vamos dizer que vamos parar, mas não faça. Não espere acontecer. Pode parecer que tudo vai dar errado, mas no final sempre vai dar certo. Querendo ou não pode ser que não seja da maneira como eu quero, mas já deu certo”.
EXPERIÊNCIA EM ABU DHABI
“A experiência em Abu Dabi foi muito boa. Foi a melhor coisa que me aconteceu. Graças a Deus eu fui pra lá primeiro e agora nos Estados Unidos. Quando eu saí do Brasil tinha completado 24 anos e nunca tinha morado sozinha e era a primeira vez que eu estava indo morar longe da minha mãe. Sempre fui uma pessoa muito responsável, mas esse foi um passo gigantesco que eu tive na minha vida indo para outro lado do continente. Eu cresci muito lá e conheci pessoas incríveis e que continuam a ser minhas amigas. O que aprendei lá é que posso fazer dinheiro e qualquer lugar do mundo. Eu só preciso de uma pequena oportunidade para fazer as coisas acontecerem e trabalhar o mais duro que eu puder, aí as coisas vão acontecer. Muitas pessoas só mostram o que são quando tem dinheiro lá, mas fora isso o País é muito acolhedor e dá oportunidade pra gente viver dignamente e realizar um sonho que no Brasil não existe, como educação, saúde, moradia, casa, dinheiro na conta, que no Brasil é só sonho. O que gostei de lá também é como o Sheihk gosta do esporte e usou dele para fortalecer o povo. A cultura árabe é incrível e agora na América também que adotei a minha casa e o meu País. Estou muito feliz aqui de ter uma condição de viver e fazer o que amo. Agradeço a Deus todos os dias e ao meu professor Anderson Banana do Miquinho Jiu – Jitsu que sempre se dedicou não só a me ensinar, mas também sempre acrescentar ao esporte em todos os aspectos e em formar atletas, campeões e pessoas. Muito obrigado pelo jeitinho que você é e ter toda a paciência do mundo de sempre estar ao meu lado, acreditar nos meus sonhos e dizer que se eu queria que fosse atrás. Agradeço muito a minha família e minha mãe, a dona Regina, que é a melhor mãe do mundo para mim e para as minhas irmãs. Um beijo”.
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(do Agência14News)