Desenvolvido e patenteado pelo CEVAP, o Selante de Fibrina foi licenciado para uma empresa filha da universidade, e a expectativa é que em breve ele seja oferecido ao mercado
Especialistas destacam que o processo de envelhecimento vivenciado pela população brasileira, aliado a problemas no sistema de saúde, ao aumento dos casos de osteoporose e à falta de prevenção de quedas em idosos faz com que o país enfrente uma verdadeira epidemia no número de fraturas ósseas.
O Selante de Fibrina, biopolímero natural e biodegradável, é uma alternativa importante para acelerar a cura dessas fraturas. A solução tem sido aprimorada há mais de 30 anos no ambiente de inovação CEVAP (Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos) da Unesp. De acordo com o Prof. Dr. Rui Seabra Ferreira Junior, pesquisador adjunto do Centro, o espaço sempre buscou inovações biotecnológicas, e, assim, descobriu que o Selante é um excelente arcabouço para células tronco. Assim, sua utilização permite aplicar um grande número dessas células no local lesionado, fazendo com que o processo de reparo do tecido seja mais rápido e que a cura do paciente ocorra em um tempo consideravelmente menor.
–Espaço do CEVAP no campus da Unesp de Botucatu.
Relevância internacional atribuída aos estudos
O professor Rui lidera um grupo de pesquisa que investiga a regeneração de fraturas ósseas, e, em junho de 2020, o resultado dos estudos foi publicado na renomada revista Materials, em um número especial dedicado à Biomaterials – ACESSE AQUI: https://www.mdpi.com/1996-1944/13/12/2747 .
No artigo, os autores mostraram, pela primeira vez, que o Selante de Fibrina permite a utilização de células tronco já pré-diferenciadas em células ósseas, e, com isso, eles conseguiram sanar um defeito crítico ósseo (que não se cura espontaneamente), em apenas 21 dias.
Segundo Rui, “A publicação desses resultados demonstra a importância da descoberta para a comunidade científica, trazendo esperança para que em breve possamos aplicar a solução em pacientes. Além disso, a aprovação do artigo científico e outras conquistas baseadas em pesquisa de fronteira só são possíveis porque sempre atuamos de maneira multidisciplinar em colaboração com excelentes pesquisadores, como a Camila Zorzella, primeira autora do artigo, e o Denis Svicero, um dos fundadores da spin-off R4D Biotech, para a qual fizemos o licenciamento da patente do Selante de Fibrina”.
-Prof. Dr. Rui Seabra Ferreira Junior, pesquisador adjunto do CEVAP.
Parcerias de longa data e trajetórias de crescimento na Unesp
Camila ingressou na Unesp em 2008 no curso de biologia do Instituto de Biociências de Botucatu (IBB), e desde então a conexão, o orgulho e o amor pela universidade só aumentaram. Logo no primeiro ano da graduação, ela iniciou um estágio no CEVAP, e, junto ao Centro, realizou três projetos de Iniciação Científica com bolsa Fapesp, percebendo, a cada dia, que a parceria com o professor orientador Rui Seabra seria de longa data. Ela seguiu fazendo ciência, se formou em 2012, e realizou o mestrado entre 2013 e 2015 no Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina de Botucatu, novamente com bolsa Fapesp, pesquisa que resultou na publicação anteriormente mencionada. A egressa iniciou então, logo na sequência, o Doutorado no mesmo programa, dessa vez com fomento realizado pela Capes.
–Camila Zorzella, egressa da Unesp e primeira autora do artigo científico publicado na revista internacional Materials
“Meus experimentos, tanto no mestrado quanto no doutorado, envolveram o uso do Biopolímero de Fibrina, desenvolvido a partir do veneno de serpente e produzido exclusivamente pelo CEVAP, em regeneração óssea. O mestrado, utilizando o biopolímero em fêmur de ratos, foi a base para a construção do conhecimento que aplicamos no doutorado, utilizando o modelo em crânios de coelhos. Em ambos os projetos utilizamos desenhos experimentais que pudessem mimetizar necessidades clínicas reais, mesmo que ainda em animais de experimentação. Essas pesquisas são fundamentais para que novos tratamentos possam ser desenvolvidos e implementados com segurança no futuro, e sou muito grata à Unesp por ter me formado como cidadã, profissional e pesquisadora; sigo, a partir de todas as conquistas que obtive, carregando muitos sonhos e ideais comigo”, ressalta Camila.
A jornada de anos construída junto à Unesp também foi trilhada por Denis Svicero. Ele ingressou na universidade em 2007 para a graduação em Medicina Veterinária e Zootecnia na FMVZ do campus de Botucatu, e, ao terminar o curso, entrou diretamente no Programa de Mestrado em Clínica e Cirurgia Animal e, na sequência, no Doutorado em Clínica Médica Veterinária. Atualmente, Denis é pesquisador de Pós-Doutorado e desenvolve estudos no CEVAP e na Faculdade de Medicina de Botucatu com foco em terapia celular, medicina translacional, desenvolvimento de fármacos e ensaios clínicos. O ambiente acadêmico e o gosto pela pesquisa o levaram a, paralelamente, ser um dos fundadores e atual diretor executivo da R4D Biotech, uma spin-off derivada do CEVAP, que tem o objetivo de transformar o conhecimento viabilizado na bancada dos laboratórios da universidade em tecnologias oferecidas à sociedade que devolvam um pouco de tudo que sempre foi investido para manter a instituição pública.
-Denis Svicero, pós-doutorando na Unesp e co-fundador da spin-off R4D Biotech
Caminhos para a transformação da pesquisa em um produto acessível à população
“O CEVAP tem se especializado na produção de biomedicamentos exaustivamente desenvolvidos e testados, que precisam chegar à população. É neste contexto que a R4D Biotech, que já colaborava com os pesquisadores inventores do Selante de Fibrina, buscou o licenciamento dessa tecnologia para que tal solução avance mais rapidamente”, pontua Denis.
O empreendedor destaca que o processo de licenciamento da tecnologia foi todo conduzido pela Agência Unesp de Inovação, que possui alta capacitação para a realização de contratos e parcerias entre o setor público e o segmento privado, e ressalta que está animado com os próximos passos, tanto pelas novidades em relação à regulamentação da Unesp quanto pelo fato da spin-off ter sido recentemente contemplada em um edital da Fapesp. “Tenho uma grande expectativa no momento pois a Unesp aprovou sua Política de Inovação e isso vai certamente desburocratizar diversos entraves. Além disso, acabamos de ter um projeto PIPE-FAPESP (Pesquisa Inovativa na Pequena Empresa) Fase 1 aprovado, e temos portanto, um investimento de R$ 200 mil para dinamizar ainda mais as nossas atividades. No caso de uma empresa oriunda de um grupo de pesquisa dentro da Universidade, obter um impulso financeiro inicial como esse é essencial, pois aporta recursos não reembolsáveis. Com esse investimento, pretendemos elaborar o protótipo de nosso produto inovador baseado na tecnologia do Selante de Fibrina, a fim de colocar a solução no mercado no menor tempo possível”.
O professor Rui é um grande incentivador do empreendedorismo entre os alunos e egressos, e destaca que essa iniciativa é o caminho mais rápido para que as inovações geradas em uma grande Universidade Pública como a Unesp cheguem à população que tanto anseia por novos tratamentos e pela solução dos inúmeros problemas que enfrenta. “A Agência Unesp de Inovação tem desempenhado um papel fundamental no fortalecimento da cultura empreendedora e dos elos entre a iniciativa pública e a iniciativa privada, e, por meio do fortalecimento desses elos, o CEVAP mostra cada vez mais o seu valor ao à sociedade brasileira”. (Autora da matéria: Tainah Veras.)