Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), observa ser preocupante a estimativa de que, ao contrário do que se esperava, a Selic deverá permanecer em 13,75% ao ano, devido ao aumento das pressões inflacionárias, motivado principalmente pelas incertezas acerca do equilíbrio fiscal. “Todos aguardam com alta expectativa o anúncio da nova taxa pelo Copom nesta quarta-feira (1/2), na primeira reunião do órgão ocorrida sob uma direção do Banco Central não nomeada pelo presidente da República no exercício do cargo”, ressalta.
Cervone cita a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, que mantém a projeção de 13,75% para a taxa básica até meados de 2023 e reajusta para cima a referente ao final do ano, de 11,5% para 12%. “Toda essa revisão das perspectivas quanto à Selic, que se verifica também no Boletim Focus do Banco Central, é gerada no mercado devido às incertezas quanto à questão fiscal e seu efeito sobre a inflação”, enfatiza.
Para o presidente do Ciesp, cabe ao Governo Federal responder ao mercado com um forte compromisso referente ao equilíbrio das contas públicas. “Nesse sentido, esperamos que seja eficaz a proposta de nova âncora fiscal em substituição ao teto de gastos, anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que visitou a Fiesp e o Ciesp ontem (30/1). Acredito que o conceito ainda não tenha sido bem entendido pelo mercado e os setores produtivos. O importante é que sigamos conquistando superávit primário, para reduzir pressões inflacionárias e possibilitar redução dos juros, crucial para estimular a economia”, afirma.
A Fiesp e o Ciesp criaram no ano passado (2022) um Grupo de Trabalho com a Febraban para estudar as causas estruturantes das altas da Selic e do spread bancário. Iniciativa inédita que une a indústria e o setor financeiro na busca de soluções para os obstáculos ao crescimento.
Cervone frisa, ainda, que a reunião do Copom esta semana será um teste importante quanto à convivência do Governo Federal com o Banco Central independente. “Nessa relação não pode existir qualquer viés político, devendo prevalecer o interesse maior dos brasileiros, cujas prioridades são o crescimento do PIB, mais investimentos e criação de empregos em larga escala”, conclui.