A reportagem do Agência14News está no Fórum de Botucatu acompanhando o julgamento do empresário João Mathias, de 63 anos, acusado de duplo homicídio qualificado.
No dia 7 de dezembro de 2014, João Mathias atirou e matou sua ex-namorada, Sueli Aparecida Pereira, de 38 anos e Ademir Matias, de 29 anos, durante uma festa no bairro do Guarantã.
O processo tramitou pela 2ª Vara Criminal de Botucatu e, na fase instrutória, o acusado foi pronunciado por duplo homicídio, ficando definido, então, que o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri de Botucatu será o responsável pelo seu julgamento e não o Juiz singular.
Estão atuando na defesa os advogados criminalistas Rita de Cássia Barbuio e José Roberto Pereira. O julgamento será presidido pelo Juiz de Direito da 2ª Vara, Dr. Henrique Latarola. Na acusação trabalha o Promotor de justiça, Dr. Marcos Corvino, além da advogada Mariana Percário.
Um grande esquema de segurança foi preparado e uma longa fila de cerca de 150 interessados em assistir ao julgamento foi registrada pelo Agência14News, mas o local reservado ao público assenta somente 50.
João Mathias está sem algemas durante o júri e aparenta estar vem mais magro do que quando foi preso em 2014. Fica o tempo todo com a cabeça baixa acompanhando todas as falas.
A previsão do advogado José Roberto é que o julgamento seja concluído no começo da madrugada de sexta-feira (24).
DEPOIMENTOS
O primeiro a depor foi o policial Rosivaldo Silva que disse ter havido perseguição porque depois do crime Mathias havia fugido e tentou atropelar o PM. Também jogou o carro contra motos da Polícia Militar.
No carro estava uma arma com 6 munições deflagradas e 3 intactas.
O PM diz que Mathias atirou na ex-namorada com quem ele já havia discutido em uma casa noturna; dias depois foi à festa no Guarantã, onde atirou em Sueli, depois disparou contra o rapaz chamado Ademir que dançava com ela, e em seguida voltou para atirar na nuca dela.
Ao ser detido pela PM depois de bater o carro, ele afirmou que tinha feito uma besteira e matado a ex-namorada.
GCM
Silvio Prado da Guarda Municipal confirmou a história da perseguição e que além da arma e munição havia ainda no carro 6 tijolos.
FAMÍLIA DE SUELI
Cassiano José, irmão da vítima Sueli, disse ao juiz que ela estava separado de Mathias há 2 anos, mas ele não aceitava o fim da relação e fazia ameaças.
Sueli e Mathias moravam em casas separadas mesmo quando se relacionavam. Sueli estava namorando com Ademir há 4 meses.
O relacionamento com Ademir foi assumido junto à família dela. Ele ficou sabendo do crime por uma amiga, cujo pai estava na festa, e que ligou para ele avisando.
Sueli trabalhava como técnica de enfermagem na Unesp e já havia atuado como faxineira e diarista desde nova. Disse que João Mathias era arrogante, pois se desfazia dos outros, mas que sempre ajudava ela como na construção da casa e em presentes.
IRMÃO DE ADEMIR
Claudio, irmão de Ademir Matias, disse que Sueli e seu irmão tinham assumido publicamente o relacionamento, até vendo uma foto de rede social e afirmando que eram mesmo Sueli e Ademir na imagem.
Disse que Ademir tinha recebido ameaças de João Mathias tanto pessoalmente como por mensagens. E que houve Ainda ameaça em frente a uma casa noturna. Falou que seu irmão trabalhava como operador de máquina em terraplanagem.
TESTEMUNHA DA FESTA
Claudio foi ouvido por volta das 11h10. Disse que viu a hora dos tiros.
Mathias atirou no Ademir e depois deu um tiro em Sueli, em seguida atirou de novo em Ademir que já estava caído.
Como tinha muita gente, Cláudio, afirma não ter conseguido ver mais nada. “Vi a hora do tiro e o homem caído”.
AMIGA DE SUELI
Uma amiga de Sueli que estava em um trailer diz que no local era normal usarem arma branca, mas nunca revólver. Ela conhecia Sueli há “muitos” anos. Ouviu os tiros e viu a correria onde tinha até crianças. Sabia do relacionamento dos dois.
Afirmou que Mathias era uma pessoa boa, que ajudava em almoço beneficente. Nunca ficou sabendo dele se envolver em briga. João Mathias e Sueli se davam bem no começo do relacionamento.
Disse ainda que viu João perguntando a Sueli em uma casa noturna porque ela estava ali se falou que estava de plantão. Sueli disse que era um primo. Depois João foi embora. A testemunha disse que João e Sueli se relacionaram momentos antes do crime.
AMIGA DE MATHIAS
Uma amiga de Mathias da época em que ele tinha açougue no Mercadão Municipal, isso há muitos anos, disse que João Mathias sempre foi uma pessoa boa, calma, ajudava em festas beneficentes, que viu ele com Sueli 3 meses antes do crime, quando eles foram a uma festa em sua chácara onde se comportavam como namorados.
EX-MULHER
A ex-mulher de João Mathias, com quem ele foi casado por muitos anos, disse que ele era um bom pai e que o casamento acabou por causa do relacionamento com Sueli.
INTERVALO
Por volta das 13h15 foi determinado pelo juiz-presidente do júri a interrupção dos trabalhos para que seja servido almoço para todos que estão trabalhando no julgamento, bem como os jurados.
Até o começo da tarde ainda existia fila na porta da Sala do Júri “Dr. Agostinho José Rodrigues Torres” esperando liberar vagas para que pudessem assistir ao julgamento. Cerca de 20 pessoas estavam do lado de fora.
Na sequência deve ser ouvida mais uma testemunha, o réu, e ainda acusação e defesa.
MATHIAS FALA
Às14h30 o Júri foi retomado com o depoimento do réu acusado do duplo homicídio. Ainda existe fila de pessoas concorrendo para assistir ao júri no Fórum de Botucatu.
Nove testemunhas já depuseram. Em seguida ocorrerá debate de acusação e defesa.
João Mathias respondeu como de praxe em júri se conhece as pessoas que testemunharam no caso. Respondeu que o irmão de uma das vítimas pode ter algo contra a sua pessoa, mas nada dele (réu) contra a testemunha. O réu disse que respondeu também por descaminho, foi inocentado de processos, mas falta um deles.
De frente para o juiz respondeu se matou as vítimas no bairro Guarantã. “Uma parte me lembro, outra não”. “Me deparei com minha noiva, perdi a cabeça, não sei como, não sei como surgiu essa arma, mas aconteceu tudo isso aí”. Disse que ainda mantinha relacionamento com Sueli, e que esteve com ela na sexta-feira. Foi informado por ela que iria trabalhar no final de semana. “Era a mulher dos meus sonhos, o ar que eu respirava, a minha vida. Eu ia casar mesmo”.
No dia do crime disse que foi ao Guarantã almoçar, mas sem outro motivo. Diz que confiava em Sueli e acha ela não tinha outros relacionamentos. Quando teve uma operação ela chorou e viu, pela forma que agiu, que era a mulher da sua vida. “Ela adivinhava meu pensamento. Tudo para mim era ela”.
Disse que nunca teve arma e só usava um canivete de família. Foi à festa com um amigo, mas esse amigo não estava armado. Comprou cerveja, não chegou a beber, passou a conversar com pessoas conhecidas, e comeu em pedaço de carne.
Mathias começou a chorar quando foi perguntado se viu Sueli na festa. Foi auxiliado por uma funcionária com água. Disse que nunca imaginou ver o rapaz com ela. Chorou de novo no depoimento. João respondeu que chegou a ver os 2 juntos na festa.
Sobre o duplo homicídio diz que não lembra o que aconteceu. Só lembra de alguns reflexos, dele na hora sendo preso. Lembra pouco do hospital e depois na delegacia. “Me deram tanta pancada que estava atordoado”, disse alegando que foi agredido por familiares de Sueli. Ele foi questionado pelo juiz sobre o seu depoimento anterior onde teria dito que sabia da traição dela bem antes da festa, e que ela não queria mais sair com Mathias. Ele negou que deu esse depoimento, que consta no processo. “Me arrependo completamente pela falta que sinto dela. Eu a amava demais”, diz Mathias. Ele afirmou que recebia informação de conhecidos dizendo que Sueli tinha outra pessoa. Chegava a questioná-la, mas no fim isso era resolvido, pois confiava nela.
O juiz mostra mensagens do réu convidando Sueli para ir comer carne em casa e dizia: “Deixe seu ficante e venha em casa”. Ele alegou que se referia a uma amiga a quem Sueli era muito apegada.
Em outra cobrava ter algo mais sério com ela, como casamento. “Queria ela pra mim. Morou mais de 1 mês comigo em uma chácara na Rondon, aí vimos que tínhamos afinidade”. Outra mensagem: “Sei que está com ele….meus olhos ardem…”. Sobre essa disse que se referia a um sobrinho, que Sueli dava tudo para ele. “Depois de sair da cama do seu amado venha me ver”. Mathias diz que era também o sobrinho de quem ele tinha ciúmes. Alegou que Sueli era muito ciumenta e nervosa.
Em outro trecho de mensagem diz que estava na cama com outro, que ela tem outra pessoa. Mathias alegou que ouviu falar que ela estava com outra pessoa. Mas eles se acertaram porque acreditava nela, fez juras de amor.
Até houve mais mensagens dando a entender que Mathias aceitava até certo ponto que ela tivesse outra pessoa. Mas também havia conotação de ameaça e xingamentos. Voltando ao dia. “Vi ele de costas, ela beijando ele; me deu uma coisa”.
“Se tivesse consciente não teria feito isso. Passei na frente da minha casa e da minha mãe e não lembro. Nem fugiria para a cidade”. No fim de sua fala, Mathias chora de novo. Ele será inquirido por acusação e defesa.
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